terça-feira, 31 de maio de 2011

Transgressão - 165



Eu viro um menininho de dez anos, tem hora.
É que quando a úlcera da minha canela fechou, as terminações nervosas se reconectaram e, bacana, o trem coça como não sei o que.  Desesperadamente.  Leco, meu personal oncologist havia me previnido.

Uma vez eu estava no Meu Sítio, a ferida quase fechando, e não resisti.  Fiz com a mão como se fosse uma carícia em volta do local.  Depois passei a unha com a maior suavidade possível.  E, ato contínuo, eu tinha caído na pegadinha.  Coçava, feito um desesperado.  Aí, é claro, foi tudo por água abaixo...

Como você possui um conhecimento só de ouvir falar, é capaz de estar pensando assim:
-  Mas se sabe que não pode, então por que coça?
Oh, meu Deus, explica pra esta pessoa o que é desespero.  Só assim ela vai entender.  A coisa é insuportável!

Depois dá o maior baixo astral, eu querendo saber onde estava com a cabeça, pra coçar logo o pedacinho em recuperação. 
Mas fissura é isto. 
Eu não conseguia pensar em outra coisa.

Devo ter feito isto umas quatro vezes, nestes 5 meses que minha ferida não cicatrizava direito. 
E tirar a casquinha, então?  Uma delícia...
Mas muito caro, diga-se.

Agora no final, descobri um macete que foi maravilhoso.  Na hora em que a vontade de coçar vem irrefreável, eu cubro a ferida com esparadrapo microporo, daqueles largões, pra proteger a pele com-ple-ta-men-te.  Aí, coça suavemente em cima do microporo.

A sensação é de estar fazendo uma coisa errada, sem chance de ser pego por seus detratores.  Maravilha.
Ando adotando este estratagema preventivamente.  Quando dá muita vontade, meto o microporo e dou a coçadinha.

É melhor que comer doce de leite quando se está de regime...

 

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Edição Extraordinária 68 - Minhas meninas



A velha Sakana outro dia estava me dando um puxão de orelha.  Dizia ela que eu só tinha o Diogo de filho...

Na verdade, Sakana, ele nem está com esta bola toda.  Quem está mandando no pedaço é Tomás que, como neto, traz o pai dele no pacotinho.
Ai eu andei dando uma vasculhada nos arquivos pra ver se sua reprimenda faz sentido.  Separei duas relevantes, entre as várias que encontrei, que acabaram com minha preocupação com eventual privilegiado.
São dois posts mais específicos, entre vários onde eu falo do meu amor por estas meninas, mas que são muito importantes pra mim.  E, sobretudo, são a cara das duas.

Logo que eu me defrontei com a notícia do tumor, Lisa me deu uma gigantesca injeção.  A história dela com o Richarlysson, a sexta postagem lá do comecinho, virou uma referência importante pra mim e me rendeu alguns posts para est’A Saga.
Enquanto eu me recuperava, Ciça estava voltando do mestrado no Rio.  E foi minha grande acompanhante nos périplos que eu fazia pelo mundo dos consultórios.  Chegou mesmo a me pedir um emprego.

Mas dei qualquer forma, não tem nada que me remeta mais a estas duas do que a música Coração Civil.
Eram pirralhas, talvez antes desta foto delas, e cantavam no Coral do Promove.  E, fosse ensaio ou audição, eu me debulhava em lágrimas, ouvindo as duas.  As amiguinhas do coral adoravam ficar me apontando.  Tomavam esporro do maestro por minha causa.
As meninas, com ódio do vexame, morriam de vergonha.

A elas duas, meu eterno e incondicional amor e minhas desculpas pelos  vexames que eu já fiz que vocês passassem.





quarta-feira, 25 de maio de 2011

Rapidinhas 09 - Trânsito livre



O negócio agora está uma delícia.

Quando Isadora colocou as manguinhas de fora, a preocupação maior do meu povo era com relação ao fluxo de sangue.  A coisa ficava meio amarradinha e acabava não oferecendo a vazão que ZéAugusto (e, de resto, eu junto) esperava.

Ficava todo mundo meio tenso.  O enfermeiro (e, de resto, eu junto), preocupado com a possibilidade de rolar hematoma no meu bracinho, acabava que vinha ele mesmo me puncionar.
-  O senhor está meio ansioso, seu Paulo.
- QUEM ESTÁ ANSIOSO AQUI, CACETE?[2]

Como a intervenção tinha sido prevista pra segunda, fiz uma sessão extra no sábado e tive que fazer minha hemo ontem e hoje.  Agora a coisa entra, de novo, na rotina normal.  Mas o comentário geral foi que o sangue jorrava livre, leve e solto. 
Parece um furacão, dizia o moço.

Quer dizer, se tudo der conforme a gente tá esperando, devo me cair de amores com meu KTV mês que vem.

Isadora, minha fia, Valente manda agradecer e dizer que agora virou outro homem.  E que você está muito mais gata, gordinha assim...

 


[1]  Claro que eu estou brincando.  Mas, verdade seja dita, eu mesmo tenho dificuldade de lidar comigo quando eu fico amargo...


segunda-feira, 23 de maio de 2011

Edição Extraordinária 67 - Grande Mamma



Isadora, definitivamente, amatronou-se.  Perdeu aquela pose diáfana com a qual ela bailava a seu bel prazer.  Seu perfil de bailarina dos sete véus foi-se.  Ela agora virou uma grande mamma italiana.  Perdeu a cinturinha delgada em troca de uma figura rotunda, mais conivente com o que eu esperava dela.

Foi tudo um sucesso.

Como eu fiquei consciente durante toda a intervenção, bicava, toda hora, a conversa do ZéVicente, meu personal cardiovascular operator, com sua equipe.  O que não impediu que eu tomasse gloriosos esporros.  ZéVicente, equipe incluída, era cruzeirense e, pelo que entendi, o Cruzeiro havia começado o Brasileirão perdendo de um time pra lá de inexpressivo. 

Tirando isto, a conversa foi superanimada.  Vera, da equipe de enfermagem, era responsabilizada pela aplicação de uns contrastes que queimavam um cadinho.  E a equipe:
-  Fala mal do Cruzeiro agora!

Pelo sumário da alta, o que eu fui lá fazer foi uma angioplastia de FAV sob anestesia local + sedação.  Mas a parte que eu gostei mais foi a detalhada descrição das complicações:
-  Nenhuma!
Vou até repetir para o caso de você não ter entendido.  Nem umazinha sequer.

Pela imagem que você pode ver no início do post, tinha uma obstruçãozinha na bifurcação da veia que não permitia que o fluxo fosse generoso.  Por isto, na imagem a Isadora aparece tão esmaecida.
Resumindo a ópera, bacana, pelo pulso, ZéVicente enfiou um balão[1] que inflou dentro da Isadora e gerou todo este estrago na sua sensualidade.
Foi isto, o que eu fui fazer lá.  Amanhã, recomeça a rotina da hemodiálise.  Só que, aí, com o fluxo turbinado.


ps:  Na hora de ir embora, todo mundo feliz com o resultado, ZéVicente colocou tudo a perder.
-  Você está muito gordo.  Trate de melhorar este peso!





[1] Claro que, tecnicamente, não deve ser isto.  Mas fica com minha analogia, ou você vai ter que fazer uns 10 anos de Faculdade de Medicina.


domingo, 22 de maio de 2011

Edição Extraordinária 66 - A louca


Júnia era, de longe, a menina mais bonita da turma nossa do Círculo Militar.  Tão bonita que nenhum de nós se arriscava a se engraçar com ela.  Mas eu achava encantadora mesmo era a Lina, pena que MUITO mais nova, com a cabeleira e o sorriso mais fartos de Belo Horizonte[1].
Deve ser a síndrome de Lucas Machado, the senior, que encheu este mundo de louras lindas[2], tirando o sossego da gente.  Só avião...

Mas louca mesmo, é Dona Branca, mãe delas, filha do velho Lucas.  Uma vez, meados dos 60'. papai, militar todo rigoroso, comentava com ela sobre um dos primeiros artistas a se assumir, e usou o termo homossexual.  Fingindo um respeito inexistente, Dona Branca pergunta pra mamãe, à meia voz: 
-  Ele não sabe o apelido não?

Há coisa de um ano atrás, eu e ela nos redescobrimos na blogosfera.  Manu, neta, convidava para entrar no recém criado blog, onde ela começava a compatilhar conosco seus delírios.  Doida total...
Agora as histórias dela viraram um livro primoroso, Sigilo & Outros Avulsos, onde a gente dedica um tempo lendo e outro tanto, a descobrir novos detalhes nas fotografias do Miguelzinho Aun.

Tem uma historinha lá que parece coisa de Adélia Prado:
“Sinto vergonha de ser tão absurdamente feliz assim: sou bem nascida, me criei rodeada de benquerenças e retribuo dando muito amor às outras pessoas.  Me pergunto: que mal fiz eu pra ser infeliz?  Não caio nesta pegadinha mesmo.  Se sou assim é porque mereço.  Ora, se mereço não tenho do que me envergonhar, né?  Sou feliz, desavergonhadamente feliz.”

O meu eu comprei no lançamento, na Mineiriana.  Se vira pra encontrar o seu.  É a melhor aula de amadurecer com liberdade que eu já recebi na vida.

Dona Branca, autografando meu livro.  Vigilante, a moça da cabeleira farta.


ps:  O destaque de elegância vai pro TiLucas, no prefácio, que deixando os holofotes pra autora, se assina Luquinhas, como se fosse um ninguém...



[1] Na época não usava.  Mas louca herdada da mãe, Lina a-ha-za-va...

[2] Tetê, Luiza, Adriana, Flávia et alli


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Colateral - 164



Nana Roig é minha irmã.  Mora pelos pampas.  Tá toda feliz porque voltou a trabalhar.  Ou seja, louca de pedra...
Lembrei dela porque, depois que acaba, a gente tem mania de achar que nem sofreu.
É a tal história da utopia, que o Léo me aplicou no coments do Sonhos.
Já postei a Janela sobre a Utopia, mas o blog é meu e posto quantas vezes eu quiser:
“Ela está no horizonte - diz Fernando Birri. - Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para caminhar.”

Lembrei da Nana porque sofreu como uma santa nas 12 sessões de fisioterapia dela.  E já tá toda trelelê, com saudades dos amigos da OncoSinos.  É que hoje fazem exatos cinco meses de briga com uma úlcera que o Sutent abriu na minha canela.
Remedinho bacana, mas avassalador.

Era um tal de limpar com água oxigenada, passar Dermacerium Pomada duas vezes por dia, correr na Drogaria Araújo porque a gaze tinha acabado, ...  Um desespero.  Cinco meses trocando o curativo duas vezes por dia.
A ferida ia cicatrizando devagarzinho.  Eu olhava e a bicha estava igualzinha.  Leco, meu personal oncologist falava:
-  Olha na borda que você vê o epitélio formando...
Eu olhava e nada de epitélio...

Hoje, que nem a Nana, eu olho e fico com saudade do desespero.
Olho de cima, superior.

É que, depois deste jejum de 5 meses, sábado caio na piscina pra brincar de golfinho com o Tomás.

Quer dizer, golfinho, ele. 
Eu vou atrás feito uma orca louca, ao som de Free Willy ...



terça-feira, 17 de maio de 2011

TGB - 163



Não existe, pelo menos que eu conheça, um contador de histórias mais apurado que Mário Ribeiro.  Mentiroso compulsivo, Mário é capaz de engatilhar um relato épico Interminável, envolvendo eu, ele e você a partir, por exemplo, da ilustração deste post[1].

Foi redator da L&F, uma das agências de publicidade mais importantes de Minas e depois se juntou com Hamilton Gangana pra fazer uma revolução do varejo mineiro com a Hoje Comunicação.  Atleticano de quatro costados, Mário tem uma coluna, toda quinta, no caderno de Cultura do Estado de Minas, onde faz o que sabe melhor:  conta casos.

Mario agora anda aposentado[2].  Aliás, anda me devendo o que eu penso ser sua obra prima: o TGB[3] publicado.  É que, segundo ele, não há assunto mais aglutinador que bosta.  Em qualquer evento, velório ou casamento, formatura ou inauguração de obra pública, se você entrar numa roda onde não conhece ninguém, não falha.  É só contar um caso de bosta e, em um minutinho, você descobre fidelíssimos amigos de infância.

Exímio tocador de violão, Mário Ribeiro é meu sonho de consumo pra serenatas que eu quero fazer pra mamãe.  Toca tudo de Lupcínio, tudo de Dolores Duran, tudo que tenha relação com a fossa permanente em que ele se joga sempre.  Mário é o primeiro deprimido otimista que eu conheço.

Não faz muito tempo, Mário se engraçou com o IPod.  Guga, filho dele, que é engenheiro da Siemens[4] pelo mundo, trouxe um e o homem enlouqueceu.  Queria o bichinho, a qualquer preço.
Inclemente, Guga foi curto e grosso:
-  Pai, não vou te dar o IPod de maneira nenhuma.  Você só escuta um único disco do João Donato.  Vai gastar uma fortuna me ligando pra perguntar como funciona essa coisa.

Pois não é que, com toda a sua ignorância digital, Mário passou a pontificar no FaceBook? 
Agora eu acho que o servidor do Mark Zuckerberg dá tilt.  Eu e Mário, aposentados, conversando, vai ser uma sobrecarga que ninguém está preparado...



[1] Mesmo você não aparecendo aqui...

[2] Anda, quer dizer exatamente isto.  De repente, volta a escrever, ou pra publicidade ou pra literatura e abre a Academia Brasileira do Deboche.

[3] Tratado Geral da Bosta

[4] Maria Luiza, minha personal radiologist, deu um dever de casa pra ele.  Desenvolver um aparelho de ressonância magnética que não me dê a impressão que vou ficar atolado naquele minúsculo espaço reservado pra minha barriga.  Tomara que ele consiga...
 
 
 
 
ps:  Este vídeo também está disponível com a Rita Lee, que acabou gravando a música.  Mas me surpreendeu tanto, quando soube o autor, que preferi homenagear o próprio.


quinta-feira, 12 de maio de 2011

Rapidinhas 8 - Todo dia ela faz tudo sempre igual



Este vídeo meio que bombou na net ontem.  Pra mim, ele é importante porque mostra, com precisão, o drama que uma colega da hemo faz, todosantodia, na hora da punção.

No começo eu não tinha o menor saco.
Tudo bem, não chega a ser exatamente uma delícia, mas a impressão que dá, pra quem não está no bloco dela, é que está acontecendo um parto a cada sessão.

Hoje em dia já arrumei mais paciência (ou eu que estou mais relaxado com o processo) e até acho graça.
Mas o escândalo que a menina apronta é antológico...



terça-feira, 10 de maio de 2011

Edição Extraordinária 65 - Isadora is back



Isadora, minha veia bailarina, inventou de dar o ar da graça.  No começo, ela só deixava os técnicos em enfermagem loucos, dançando pra lá e pra cá, se fazendo de difícil.  Teve vez que eu voltei pra casa, sem fazer a hemodiálise, do tanto que essa menina escondia da punção.

Aí começou com Poliana, minha personal nurse, que sentava e conversava com ela.  Conversava mesmo.  Ficava olhando pro meu bíceps e falava:
-  Olha, Isadora, vamos ser amigas hoje e não vamos ficar fazendo pirraça?  Vamos deixar eu te achar?
Ela ficava uns três minutos apalpando meu braço e neste nhénhénhém e pimba.  Poliana era campeã.
Não falhava uma...
Dizia que Isadora sabia quando a pessoa estava com medo dela.  E aí fazia pirraça.
E eu, meio incrédulo, sem saber se ela falava sério ou se incorporava as gracinhas que eu fazia com freqüência.

Mais recentemente, Isadora começou a reservar uma coleção de coágulos para as minhas punções que interrompiam a hemo na hora.  E geravam uns começos de trombose no braço que enchiam meu saquinho.  Tinha que interromper e fazia a coisa ficar uma bocadinho chata.  Eu ia pra casa tristinho, você precisava ver...

ZéAugusto, ligeiro, pediu um duplex scan e me encaminhou pra um cardio-vascular fazer uma avaliação.  À primeira vista, parece que Isadora não desenvolveu como deveria.  É a tal anastomose que você vê na ilustração.  Pelo que falou o cárdio, ele deve passar um rotorooter na veia, a veia desenvolve e, com isto, o fluxo aumenta pra danar.

Pão, pão, queijo, queijo, isto significa uma nova intervenção cirúrgica.  Que pode ou não dar certo, me advertiu o médico.  Mas que, funcionando conforme previsto, significa a gente conseguir preservar a fístula (que é muito nova pra ser abandonada) e a possibilidade de aumentar em muito os resultados do tal KTV (le voilá, de novo)

Vamos fazer?, me perguntou o médico.

Munido do restinho de coragem que me restava, blefei:
-  Bora.

Essa Isadora me paga...



domingo, 8 de maio de 2011

Edição Extraordinária 64 - Mãe do ano



Desde que eu comecei o blog, Maurilo é meio meu grande herói neste ramo.  Na minha cabeça, foi n’O dia que eu morri que comecei a achar que tinham algumas histórias engraçadas pra serem contadas sobre meu percurso com o Valente.
Quando eu caio na besteira de eleger esse velho resmungão como benchmarking, tomo, a cada dia, uma lavada mais vergonhosa.  Já reconheci a briga como perdida quando postei, no dia das mães do ano passado, que ele era inalcançável.  Por mais que eu invente moda e consiga uma horda de seguidores nest’A Saga, nos blogs dele, Pastelzinho e Livraiada, eles chegam igual abelhas num pote de açúcar.

Maurilo inventou duas modas, estes últimos dias. 
Uma delas, vai contar histórias pros meninos da Aura (uma casa de apoio pra crianças portadoras de câncer).
E outra, quando ele criou um processo que é uma variante online da multiplicação dos pães e dos peixes, que Jesus desenvolveu há muuuito tempo atrás.

Maurilo consegue que seus discos e livros sejam vendidos duas vezes.  Uma, quando ele compra, e outra, quando faz umas garages sales de suas coisas, vendendo de novo, em troca de cobertores e brinquedos pra doar pra uma creche que ele e sua Sophia apóiam.

Quinta feira fui levar um cobertor pra ele na Tom e pegar o livro que me coube.  “A escritora” da Ethel Kacowicz, que saiu pela KindleBookBR.
Engraçado que virou tudo uma grande conspiração do universo em comemoração ao dia das mães.
Ethel, que já tinha sido publicitária uma vez na vida, foi se transformando, devagarzinho, em bruxa.  Eu trabalhei com ela quando estava rompendo o casulo.  Ainda não voava de vassoura.
Foi aprendendo a conversar com Deus e, o melhor de tudo, a ver Deus nestas nossas imperfeições.

O legal do livro é que foi me dando um certo incômodo, achando que as coisas estavam demorando a dar certo pra ela.
Acho que, no final das contas, foi o melhor presente que Maurilo podia ter dado pra mim, pra Ethel, pra creche e pra ele mesmo.

Não tenho a menor dúvida que foi mais uma bruxaria da Ethel.  Se eu fosse você, seguia o Pastelzinho, pra participar das próximas inventações do Maurilo, e lia “A Escritora”, pra treinar pra estar mais perto d’Ele.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Edição Extraordinária 63 - Chupa essa manga, Diogo!

 

Minha vida toda, eu nunca dei bola pra futebol.  Adoro o movimento das torcidas, a confusão, as coreografias, essas coisas.  Mas um time ganhar ou perder, muda pouco pra mim.  O que significa que sou atleticano fanático, por puro folclore.
Quando a gente foi pra França, mamãe mandou uma camisa 9 do Reinaldo, o baby-craque, que ficava na parede do quarto do Diogo.  Meus amigos franceses chegavam e eu desfiava um rosário de mentiras, falando da minha intimidade com a pelota, com o time, enfim, as mentiras de sempre.  E os franças, me ouvindo, maravilhados, sem piscar...

Já cheguei até a levar os meninos no Mineirão, vez por outra.  Diogo morria de vergonha ao me ver, de costas pro campo, embevecido com o tandepá das torcidas. 
- Finge que você entende alguma coisa e olha pro campo, pai!

Sabe-se lá porque, Tomás virou atleticano.  Credito isto, claro, à profunda simpatia e identidade com o avô.  Carol fala que não sabia que era tão cruzeirense ao se ver querendo me matar, quando dei o jogo de camisa do Galo pro meu neto.

Mas aí, temendo que a coisa virasse séria, combinamos que sempre que Tomás pegasse no pé de alguém por causa de futebol, a gente sempre explicaria: 
-  Cada um pode escolher o time que quiser e tá tudo bem!

Só que, dia destes, Diogo inventou de encher meu saquinho com uma gravação de uma velhinha com o Tiago, da Itatiaia, no dia que o Galo caiu pra Segundona.  Ela chorava, desconsolada, dizendo:
-  Como é que eu vou explicar isto pro meu neto, Tiago?

Cruel, Diogo ria.  Reclamei com a Carol.  Riu também e não deu a menor bola...

Ágil, com a desclassificação do Cruzeiro pra Libertadores, Xico Castilho[1]me mandou este vídeo.

Chupa essa manga, Diogo!


[1]  Junto com Léo Lage e Mário Ribeiro, eles formam o trio irracionalmente mais atleticano da publicidade mineira.






terça-feira, 3 de maio de 2011

ABC do paciente renal - 162



No post passado, quando eu estava procurando no Google uma explicação bacana pra KTV, descobri, meio que sem querer, duas fontes legais de informação.  O blog VIDA REnAL, da Luciana Cintra Sielskis e o site do Centrodial, português.  Os dois, cheios de informações pra nós, pacientes dialíticos.  Acho que Luciana ficou meio que prisioneira, cansou da vida de diálise e resolveu falar de outras coisas em outros blogs.  Mas o VIDA REnAL é a maior coleção de informações relevantes pra paciente renal crônico que eu já encontrei.  Ela, por enquanto, tem concentrado seu talento no {.Bendito Scrap.}.

Fiquei até pensando que quando encho o blog de abobrinhas é prá não me deixar prender, no assunto, e acabar deprê.

O post hoje vai ser meio longo, mas acho que vale a pena.  Separei pra você o ABC da Diálise.  Vamos lá:

O que é o peso seco?O peso seco é o peso de uma pessoa sem líquidos a mais, nem a menos. Será o peso com o qual o paciente se sente bem, e abaixo do qual desenvolve hipotensão ou câimbras. Este peso é possível determinar após tratamento por hemodiálise. Assim, no fim de uma diálise em que estivemos com câimbras ou hipotensão devemos estar no peso seco ou perto. Quando chegamos no início da semana com pés inchados ou falta de ar devemos estar muito acima do peso seco.
Como se faz para retirar líquidos na diálise?Para retirar líquidos na diálise o sangue no filtro é sujeito a uma pressão que obriga a água sair para o banho de diálise. Esta pressão chama-se pressão de ultra-filtração.
O que faz a diálise além de retirar a água?A diálise tem dois aspectos importantes e relativamente separados. Um, é a retirada de água que já se falou. O outro é a diálise em si, ou seja, a limpeza do sangue dos produtos tóxicos que se acumularam no corpo entre as diálises.
O que é um filtro, como funciona?O filtro é constituído por dois espaços, um onde circula o sangue e o outro onde passa o banho. Eles estão separados por uma membrana tipo rede que pode ser constituída por diferentes matérias, rede esta que pode ser mais fechada ou mais aberta, e através da qual passam os produtos a dialisar.
Que tipo de filtros e membranas há?Atualmente quase todos os filtros são de fibras ocas. Os de Placas são raramente usados. Os filtros diferem muito no que diz respeito ao tipo de membranas que empregam. Antigamente quase todos os filtros tinham membranas de celulose. Hoje estão disponíveis membranas sintéticas mais compatíveis com o nosso organismo.
A grande vantagem deles é que são melhores para os pacientes, e por outro lado alguns deles permitem fazer o que se chama de diálise de Alto Fluxo e Hemodiafiltração.
Há alguma maneira de se saber quanta diálise temos que receber?Há! A diálise pode ser encarada como um medicamento. Cada doente deve receber uma dose adequada, porque de outro modo estará mal dialisado. Isto pode acontecer mesmo que o paciente não sinta nada. As consequências de uma má diálise só são vistas a médio e longo prazo.
Qual é a dose (KTV) que devemos receber?A diálise para ser adequada deve fornecer um KTV superior ou igual a 1.4. Este valor pode ser consultado no resultado das análises que o médico dá a cada doente no principio de cada mês. Por ai cada doente pode verificar como anda a sua diálise.
É claro que quanto maior for o KTV melhor para o insuficiente renal.
O KTV é suficiente para se saber que se anda bem dialisado?O KTV só nos diz como foi a diálise que fizemos quanto à eficiência como removemos pequenos solutos, como a uréia, e portanto não chega para avaliar a diálise. No tratamento que fazemos, quanto mais nos aproximarmos do funcionamento do rim normal, melhor.
Grandes flutuações de peso e de tóxicos no sangue são prejudiciais, lesando o coração e pondo em marcha um conjunto de processos regulatórios que acabam por lesar todo o organismo. O nosso corpo não está preparado para este tipo de funcionamento.
Por isso, quanto mais vezes fizer diálise melhor. Quanto mais longas e suaves forem as diálises, melhor. Por isso, a diálise longa (noturna) é a melhor forma de diálise.
Débito , qual o interesse de altos débitos?O débito é a quantidade de sangue que circula no filtro por minuto. Quanto maior for o débito, mais vezes ele passa no filtro[1] e maior a quantidade de produtos que são dialisados.
Porque se usa Heparina na Diálise? Dentro dos vasos sanguíneos existem substâncias que impedem a coagulação do sangue. Quando o sangue sai dos vasos e entra em contacto com outras superfícies, ele coagula. A Heparina é utilizada para evitar que o sangue coagule quando circula nas linhas e filtro.
Porque é que se colhe tantas análises?Para além do interesse das análises para verificar se o filtro dialisa bem , se o tempo de diálise é adequado ( KTV ), as análises mensais servem para se saber se é necessário alterar a medicação, se a dieta está a ser apropriada ou se houve erros alimentares ( potássio e fósforo altos ), etc.
Peso inter-dialitico, o que é?O peso inter-dialitico é resultante da ingestão dos alimentos e líquidos após a diálise, e até à diálise seguinte. É o peso acima do peso seco. Aumentos de peso excessivos prejudicam os vasos e coração e aumentam as complicações durante a diálise principalmente agora que as diálises são mais curtas.
O aumento ideal entre as diálises deve ser inferior a 2.5-3Kgs, ou seja, até 3% do peso corporal. Mas, quantos menos, melhor.

Do site:
http://centrodial.com




[1]  Fiquei te devendo esta informação no post anterior.  Meu fluxo então é de 450 ml/minuto.  Será?  Eduardo, do Felício Rocho, confirmou no comments.   Mas dá quase 30 litros por hora.
Cacildis,...

À procura da batida perfeita - 161



Faltou falar do ZéAugusto, que fecha com chave de ouro a junta médica que me acompanha.  Zé é meu personal nephrologist lá no Núcleo e é ele quem nos transforma de cacos em bonitinhos, três vez por semana.

Ele vem acompanhando com a maior atenção os números da minha diálise.  O que deixava ele preocupado era a taxa dos meus glóbulos vermelhos.  Ficando baixa, implica um cansaço que acaba comigo.  Como o remédio que melhora o índice dos glóbulos vermelhos tem uma pitada de cancerígeno, Zé vai me dando parabéns à medida que os resultados vão melhorando devagarzinho.

Falando nisto, os resultados de abril foram maravilhosos.  Quando me entregou o relatório, me perguntou se eu tinha incumbido um de meus meninos de ir fazer o exame de sangue no meu lugar.

Agora, o que tem incomodado ZéAugusto tem sido o KTV[1].  KTV é o índice que mede o grau de eficiência da diálise.  O ideal é quando fica beirando o 1,4.  No meu caso, sei lá porque, 1,2 seria bacana.
Este ano ele ainda não tinha chegado a 1,0 nenhuma vez.

Obstinado, Zé começou a introduzir mudanças no meu processo, antes de eu ficar estropiado de vez.  A primeira foi aumentar o tempo de diálise, pra eu fazer uma hora a mais por semana.
A segundo, pra aumentar o fluxo de sangue, foi engrossar a bitola da agulha.  Não sei como te fazer entender mas a minha passou de 19 pra 15.

Parece uma britadeira.

O curioso é que a dor na hora da punção não muda muito.  Como eu fico meditando, de olho fechado, nem noto muita diferença.  Mas o fluxo quase que dobrou, passando de 250 pra 450[2].

Eu sei que o meu KTV este mês chegou a 1,17.  Quase lá.
Daqui um tiquinho ZéAugusto me dá os parabéns.



[1] Fui lustrar meu conhecimento colocando aqui a definição de KTV da Wikipédia.  Tá lá: KTV may refer to: Chinese term for Karaoke.
Claro que não é isto.

[2] Número é uma bobagem que o pessoal de marketing adora, pra confundir o interlocutor.  450 o que?  Litros por hora, mililitros por minuto?
Sei lá, esqueci!  Uma hora eu te falo sobre isto.