sexta-feira, 29 de julho de 2011

Desfaçatez - 174



Uma vez, quando a gente morava em Vila Velha, Mamãe e Papai arrumaram a maior confusão porque Diamantino, meu irmão, tinha pego uma medalhinha no Convento da Penha.  Foi que nem passarinho, quando leva coisa brilhante pro ninho.  A medalhinha ali, fulgurante, chamando ele pelo nome e, de repente, ele ficou sem ação quando viu sua própria mão pegar a medalhinha e colocar no bolso.
Pronto.  Acabou.

Que eu me lembre, foi quando o tempo fechou mais feio lá em casa.  Nem quando eu tomei bomba[1] na terceira do ginásio, a coisa andou tão preta.

Pois mamãe subiu o Convento da Penha a pé, aos prantos, pro Diamantinho devolver a medalha.  Com os olhos arregalados, a gente acompanhou aquela tristeza, sem entender direito, mas compreendendo, da forma que nos era possível.

Toda vez que eu ficava tentado a utilizar de meus dotes de prestidigitador pra afanar um Serenata de Amor nas Lojas Americanas da Rua dos Carijós, achava que não valia a pena, só de lembrar do tanto que aquela cena me reforçava a idéia da probidade como valor essencial.

Estes dias tenho pensado muito na cara de pau imensurável dos caras do Transporte ameaçando a presidente porque roubavam e foram pegos com a mão na botija.  Hora nenhuma consideravam-se pulhas, escroques ou, pura e simplesmente, filhos da puta.
Aquilo não era com eles, lhes parecia...
E ainda ameaçam parar de apoiar o projeto.  Retaliar, dizem eles, como se não estivessem fazendo nada de reprovável.

Acho muito ruim aquele que nos enlameia querer ser apontado como modelo.  Vai acabar é a gente tendo que entrar na política, pra exigir um mínimo de decência deles todos.

Que nem as saúvas, ou a gente acaba com elas ou elas acabam com o Brasil.
 


[1] No duro que eu queria ser padre.  Aí, estudava no Loyola.  Pois você acredita que eu tomei bomba em religião (entre outras)?

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Rapidinhas 10 - Trendsetters

   

Tá com cara de ser coisa de alguma dessas Fashion Week.  Mas depois que eu postei a Nana Roig, a coisa parece que virou tendência.
Pois você acredita que as irmãzinhas do blog raspadinha e carequinha entraram na onda também?

Tô achando que, quando entrar setembro, pode ir tratando de cortar o seu também.

Este cabelinho vai bombar...




terça-feira, 26 de julho de 2011

Avô - 173



É melhor deixar as coisas bem claras.  Hoje é o dia de Sant’Anna, tudo bem.  Palmas pra ela que ela merece.  Agora, é de São Joaquim também.

Pra você, que tem pouca relação com os assuntos religiosos, eu explico.  É que, como eles são os pais da Virgem Maria, hoje é comemorado o dia da avó E DO AVÔ, vamos deixar bem claro, uma vez mais.

Fiquei lembrando de um artigo que saiu domingo no Estado de Minas, com a Mariza Tejera[1], a psicóloga com quem eu comecei a estudar grupos operativos, lá pelo começo dos 80.  A primeira coisa bacana é ela citando Raquel de Queiroz, quando ela dizia que “ser avó é o único afeto que pode ser exercido com plena extravagância”.  Isto encaixa igual luva em mim, que nunca tive o sentimento de exagerar, nem um pouco, na minha paixão pelo Tomás.  Diria até que eu me acho meio comedido com ele, na maioria das vezes.  E mesmo esta minha percepção não sendo partilhada por quase ninguém, agora eu tô que não me agüento.
Tenho o aval de São Joaquim.

No texto, Mariza faz referência aos contos de fadas, que nos colocam a nós, os avós, como “possuidores de sabedorias ocultas, que transformavam seu espaço em um enorme parque de guloseimas, perfumes, surpresas e cumplicidades”.
Fico numa alegria de menino quando vejo o olhar menino do menino Tomás me procurando, e eu lendo esta cumplicidade no sorriso dele.

Diz ela ainda que “avós são uma referência organizadora do mundo afetivo e estruturadora de vínculos seguros e permanentes ... um território de acolhimento, em zona sem conflito”.

Aproveita, Tomás, enquanto você é o único.  Mas não preocupa que, quando chegarem outros, seu lugar vai ser compartilhado.  Tem amor pra todo mundo neste peito que é só seu.




[1] Mariza é argentina.  O que gera nela a expectativa de ser chamada de Maritza Terreira.  Coisa dos hermanos archetinos, ...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Edição Extraordinária 78 - Zico



Estes dias, mantida a eterna briga entre o Google Analytics e o Blogger, est’A Saga chegou em 30.000 views.  Diz um que vocês já passearam por aqui 30.138 vezes e o outro insiste que foram 31.139.  Mais de 30 e #prontoacabou.  Foram 10.000 em 24/11/2010, 20.000 em 18/02/2011 e agora 30.000.

Por um lado, eu continuo intrigado como é que 50 países já passearam por aqui, maior parte deles talvez nem saiba que exista uma língua chamada português sendo falada fora do Portugal.  Claro que há que se considerar aqui a quantidade de gente nossa espalhada pelo mundo.  De Valadares, então, nem se fala.  Um dia “La Migra” vai tentar rastrear leitor do blog pra mandar de volta pra casa.

Por outro lado, me fascina ter descoberto o porque dest’A Saga ter na Bélgica o terceiro lugar em acessos.  Mais que Portugal, Suiça, Espanha, Canadá e Alemanha, juntos.  E descobri também que é pelo mesmo motivo que faz Charleroi[1], na Bélgica, ser a nona cidade com o maior número de acessos.

É o Zico.  Descobri isto nos comentários de quando contei que o bingo rolava solto na hemo.

Zico foi pra lá jogar futebol de salão.  Bate um bolão pelo Real Châtelineau e vive sendo disputado pelos times daqueles lados. Já rodou o mundo defendendo a seleção belga de futsal.
Agora o desafio mais legal é a formação de meninos pelo esporte.  O segundo link conta sobre isto.
Não sei incorporar vídeo deste site.  Se eu fosse você, fazia uma forcinha pra treinar seu francês e ver como o Zico anda fazendo bonito por lá.

E aí, em retribuição, a gente passa a acompanhar o futsal que se joga na Europa.





[1]  Fala Xarleroá

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Escalação - 172



Tomás andou ouvindo muito sobre os jogos da seleção.  O pai fica transtornado, fazendo qualquer coisa pra ver na televisão, acompanha os melhores momentos, vê reprise na internet, um inferno.
Nada mais natural, neste ambiente, que Ganso e Neymar sejam nomes que ele esteja se acostumando, de tão recorrentes em um clima igual a este.

Corte rápido.

Um final de semana aí pra trás, fomos visitar Selgin, o Manso e Márcia, a Brava, meus irmãos eremitas, que moram recolhidos na Fazenda Paraíso, na beira do Rio Doce.  Além do lugar merecer o nome, Selgin instalou um sistema de aquecimento na piscina tão bom que a gente ficou jiboiando até altas horas, mesmo com o frio horroroso que fazia por lá.

Duas coisas deixaram a gente doido com a fazenda:  a matilha insuportável de fox-paulistinha, que dá notícia de tudo e avisa quando qualquer pessoa ou coisa beira os limites da fazenda[1].
E uma família de gansos, que cumpre a mesma função, mas com muito mais charme e elegância.

Corte rápido, de novo.

Lá fomos nós comprar gansos no Mercado Central, pra levar pro Meu Sítio.
Ocorre que o Meu Sítio tem uma longa tradição, com nomes, digamos assim, singulares.  Seu Antônio, meu caseiro, chamava a horta de Ceasa, a primeira vaquinha que a gente ganhou do Du, meu irmão, chamava Boiada, o sítio chama Meu Sítio, ...  E por aí vai.

Corta pros gansos chegando no Meu Sítio.

Um macho e duas fêmeas.
E ele, com a cara de iluminado:
-  Só falta o nome das meninas, Vô.  O menino é o Ganso Neymar.

Entendeu, Mano[2], como se escala um time?



[1]  Mas eles são insuportáveis, de chatos.

[2]  Hoje, de tardinha, nós nos recusamos a marcar um, um só, pênalti na Copa América...




sexta-feira, 15 de julho de 2011

Peremptório - 171



O povo lá de casa sempre gostou de demarcar bem seus pontos de vista.  Começou com Diogo, chegando da escola, arregalando os olhos e mexendo muito com a boca e as mãos, me perguntando o que significava enfático.
-  É que a professora falou que eu sou muito enfático.
Era mesmo!

Depois, não lembro qual das duas começou com a mania. Mas sempre que a gente pedia ou à Lisa ou à Ciça que interrompessem o que estavam fazendo para que ajudassem em alguma coisa, a resposta era definitiva.  Uma só:
-  Nunca!
Virou resposta oficial e acabou contaminando um bando de amigas delas, que também adotaram a prática.

Pega um copo dágua pra mim na cozinha!
-  Nunca!
Não esquece de arrumar sua cama. 
-  Nunca!
Corre lá no carro e pega meu celular que ficou lá.  
-  Nunca!
Você vai votar no candidato tal?
-  Nunca!
A coisa ficou até divertida e ganhou sinônimo de, simplesmente, discordância.

Tomás, entendendo que a gente já estava vacinado, achou que precisaria de uma solução mais definitiva pra sobreviver no meio desse povo espertinho.
Sábado, tô vendo Ciça chamar ele, que estava conduzindo uma carroça imaginária no Meu Sítio.  Respondeu, irretorquível:
-  De jeito nenhum.

Agora é assim.
Tomás, desliga a televisão
-  De jeito nenhum.
Tomás, vamos dormir agora.
-  De jeito nenhum.
E segue, tocando seu barco, sem mudar sua direção[1].

Uma hora alguém vai ter que fazer uma concessão nesta casa.  E nem olha pra mim que eu já sou um velho rabugento e não mudo mais. 

De jeito nenhum.



[1] Tá vendo , Léo Shikida.  Forcei a barra só um pouquinho, pro assunto encaixar, igual luva, na ilustração do post.




quarta-feira, 13 de julho de 2011

Zuim - 170



Redator de publicidade é tudo doido.  Doido turbo.
Não tem um que se encaixe nos padrões mínimos de normalidade que nós, normais, achemos aceitáveis.  Você passa uma linha entre o neurótico e o esquisofrênico e eles todos se encaixam em algum ponto entre os dois limites.

Mário Ribeiro, por exemplo, é o depressivo com mais fé no futuro que eu já vi.
Artur Eduardo[1] já comprou briga com uma Mitsubichi Pajero, que acelerou enquanto ele atravessava o sinal de pedestre[2].  Colocou as mãos na cintura, parou no meio da Afonso Pena, e bufava igual um miúra desses de tourada espanhola, desafiando o motorista.
David Paiva, que eu apresentei à minha filha Lisa, recém aprovada no vestibular de Publicidade da PUC, trombeteou, como se em um púlpito estivesse:
-  Minha filha, vá ser prostituta na vida, que você vai dar mais orgulho ao seu pai.
Ethel, você encontra ela nos ares, pilotando uma vassoura.  A empresa dela chama Das Bruxas ...
Tá bom ou quer mais?

Você que entrasse, de sopetão, no meio de uma conversa desse povo e ia achar que eles não falam coisa com coisa.  As frases nunca são iguais às suas, com sujeito, verbo e predicado.

Jakson Zuim era um exemplo ótimo da raça. 
Uma vez elogiei, ao vivo, um anúncio que ele fez pra P&B, do Chico Bastos, para o dia 21 de abril.  Perguntei se ele tinha uma cópia da peça, de tanto que eu gostava do texto.
Zuim sentou na Olivetti e vomitou pra mim, na hora, esta maravilha:

TESTAMENTO

Alferes de cavalaria, meus pertences são poucos;
não peneirei o ouro nos córregos de Vila Rica.
Nem descobri diamantes nas lavras do Tejuco.
Minha riqueza é diversa e meu legado é de idéias.
Que não pagam o quinto, nem se perdem com o tempo.
Idéias livres, germinando entre os homens.
Idéias que a própria morte não apagará.
À Gonzaga, deixo os campos do exílio, o consolo do verso, a tristeza de Marília.
À Cláudio Manuel da Costa, deixo a cela da prisão, e o fim prematuro, em circunstâncias duvidosas...
À todos os outros, deixo o degredo perpétuo. Longe das montanhas, sem pátria e sem família.
Á Peixoto, deixo Bárbara Heliodora sob forma de lembrança, transfigurada em saudade.
Aos homens do futuro deixo meu corpo dividido.
Uma bandeira vermelha e branca.
Uma frase em latim.
E as idéias, os ventos da liberdade...

Já vi este texto em uns quatro ou cinco blogs ou sites ligados à cultura mineira.  Nenhum deles citando ou Zuim ou a P&B como fonte.

Eu tenho loucura com “as idéias, os ventos da liberdade, ...”



[1] O primeiro Clio da publicidade mineira pela Setembro.

[2] Que estava aberto pra ele, diga-se de passagem.

domingo, 10 de julho de 2011

Edição Extraordinária 77 - Pela greta



Só quem já viu a vó pela greta[1] tem a noção exata do que significa cada avançozinho, por menor que seja.  Eu, por exemplo, já fiquei tanto tempo afastado de piscina ou por causa de cateter ou por causa das úlceras na canela do Sutent, que perdi o medo de água fria.  Pode estar fazendo o frio mais cão do mundo, eu caio na piscina, todo, todo.  Beirando a insanidade ...

Semana passada Valentim chegou no Brasil.  Passou o maior susto quando nasceu que, agora, tá vivo que parece homem grande.  Mexe e grita o tempo todo, risonho, que a pediatra assusta quando a Dona Valenta, mãe dele, fala que só tem quatro meses.  Semana que vem a gente vai batizar ele[5].

Outro dia descobri esta foto da Nana Roig, não se cabendo mais com a cabelada dela.  Depois de usar mil estratégias pra esconder a careca que a radiação impôs a ela, depois de tomar a série de 12 radiações pra acabar com o linfoma, Nana agora tá se achando.  Exibe a cabeleira imensa pelo Rio Grande do Sul inteiro.
Sem lenço, sem chapéu, sem nada.

Vai acabar virando modelo de comercial de xampu, ela.



[1]  Não sei se o povo gaúcho sabe o significado desta expressão, aqui de Minas.  Quer dizer que você passou um susto danado, pavoroso, mas que agora está tudo bem ...
[2]  Eu já batizei ele, desde quando nasceu, em Paris


quarta-feira, 6 de julho de 2011

Mãos de seda - 169



É capaz de você achar que é psicológico.  Todo dia que minha punção é com a Aniele, minha personal nursing technician, a coisa é a mais concreta que se possa imaginar.

Eu já reclamei algumas vezes que a única coisa que me abala desde que eu comecei a hemodiálise hidroginástica é a punção.  Principalmente depois que, preocupado em melhorar minha diálise, Zéaugusto inventou de recomendar as agulhas de calibre 15.  Não fosse eu ter aprendido com Tomás a enfrentar adversidades desta monta, eu estaria morrendo a cada sessão.

Ocorre que, não faço a menor idéia, tem gente com quem a experiência de ser puncionado dói mais.  Ou menos.  Assim, gratuito.  E como eu sou um cagão de marca maior, a coisa funciona mais ou menos como cadeira de dentista.  EU SEI QUE VAI DOER!
E começo a sofrer antes do suplício começar.

Menos quando a coisa fica por conta da Aniele.

Já aconteceu de eu sentar na cadeira, me preparar pra receber a porrada e, antes de eu sentir a picada, por menor que seja, ela já está fixando o tubinho com o esparadrapo.
Sem eu sentir nada.  Mas nada mesmo.  Programa Dor Zero.

Minha curiosidade maior é se é ela que tem algum poder sinestésico ou sou eu que deposito uma confiança absoluta nela. 
No duro que eu tinha vontade de entender se existe alguma explicação pra um fenômeno desses.  Eu sei é que a gente faz uma dupla e tanto.


Em tempo:  tinha esquecido.  Mas quem leu esta história aqui achou que a resenha do elefante, que antecede este post, era absolutamente previsível.


domingo, 3 de julho de 2011

Edição Extraordinária 76 - São João



O Clic, a escolinha do Tomás que você já conhece aqui e aqui, me deixa sempre apaixonado. Ano passado, nem lembro em qual ocasião, eles fizeram um festejo tendo como referência as manifestações do Boi do Maranhão.  Isto aparecia nos cenários, nas fantasias produzidas com material reciclado pelos meninos, nas coreografias, em tudo.   Uma beleza.

Este ano, pras festas juninas, envolveram as crianças numa pesquisa desde começo de maio sobre de que maneira poderiam aproveitar manifestações de São João a partir de um tema específico.  Tudo com intensa participação dos alunos, que eram os principais responsáveis pela decisão final.

No final das contas, o tema central foi Minas Gerais.  E danaram a pesquisar.  E tome músicas do folclore de Minas, história dos rios, lendas das águas, os bichos, uma beleza.

A performance dos Barqueiros foi uma graça.


A turma do Tomás ficou com a pesquisa sobre os animais.  De imediato, apareceram o lobo-guará, a ema e o carneiro.  Todo mundo aprendendo a cantar a musiquinha de cada um.  Na hora da ema, os meninos criaram a folia da ema, que foi um sucesso.  A música pregou na minha cabeça de tal forma que eu fiquei o final de semana todo, cantarolando...

Mas houve um determinado momento em que rolou um pequeno impasse.  Enquanto escolhiam os bichos que melhor representavam Minas Gerais, a turma do Tomás bateu o pé.  Considerando o folclore, a fauna e as características, enfim, de Minas Gerais, fecharam o tempo em cima do mais representativo animal do estado:  o elefante.
O professor ali, tentando argumentar, mas os meninos foram irredutíveis:
-  Como o elefante não é de Minas Gerais? Lá no zoológico tem...

E não teve jeito.  Lá foi o professor criar, com a turma dele, uma folia para o animal mais representativo da cultura mineira.

Foi, de longe, a performance que mais reuniu participantes...