Uma vez, quando a gente morava em Vila Velha, Mamãe e Papai arrumaram a maior confusão porque Diamantino, meu irmão, tinha pego uma medalhinha no Convento da Penha. Foi que nem passarinho, quando leva coisa brilhante pro ninho. A medalhinha ali, fulgurante, chamando ele pelo nome e, de repente, ele ficou sem ação quando viu sua própria mão pegar a medalhinha e colocar no bolso.
Pronto. Acabou.
Que eu me lembre, foi quando o tempo fechou mais feio lá em casa. Nem quando eu tomei bomba[1] na terceira do ginásio, a coisa andou tão preta.
Pois mamãe subiu o Convento da Penha a pé, aos prantos, pro Diamantinho devolver a medalha. Com os olhos arregalados, a gente acompanhou aquela tristeza, sem entender direito, mas compreendendo, da forma que nos era possível.
Toda vez que eu ficava tentado a utilizar de meus dotes de prestidigitador pra afanar um Serenata de Amor nas Lojas Americanas da Rua dos Carijós, achava que não valia a pena, só de lembrar do tanto que aquela cena me reforçava a idéia da probidade como valor essencial.
Estes dias tenho pensado muito na cara de pau imensurável dos caras do Transporte ameaçando a presidente porque roubavam e foram pegos com a mão na botija. Hora nenhuma consideravam-se pulhas, escroques ou, pura e simplesmente, filhos da puta.
Aquilo não era com eles, lhes parecia...
E ainda ameaçam parar de apoiar o projeto. Retaliar, dizem eles, como se não estivessem fazendo nada de reprovável.
Acho muito ruim aquele que nos enlameia querer ser apontado como modelo. Vai acabar é a gente tendo que entrar na política, pra exigir um mínimo de decência deles todos.
Que nem as saúvas, ou a gente acaba com elas ou elas acabam com o Brasil.
[1] No duro que eu queria ser padre. Aí, estudava no Loyola. Pois você acredita que eu tomei bomba em religião (entre outras)?