terça-feira, 30 de agosto de 2011

Desculpe, foi engano - 182



E por falar em Tomás, uma sexta destas a gente foi, nós todos, jantar no Hemengarda, um restaurante bacaninha, de um amigo do Diogo dos tempos de faculdade.

Comida refinada, ambiente agradabilíssimo, um cantinho a meia luz, vinho fantástico, tudo correndo às mil maravilhas.  Uns casaizinhos nos cantos arrulhando juras de amor adequadas pro ambiente quando Tomás, apavorado grita, numa altura incompatível com o local, a hora e o ambiente:
-  Papai, cocô!

Constrangimento geral, o restaurante inteiro nos fuzilando com os olhos, uns olhares cúmplices e outros fazendo questão de recriminar a reprovável educação que o pequeno ogro recebera.

Diogo atravessou todo o restaurante, cabisbaixo, com Tomás, aflito, pedindo pra ir mais rápido. 
-  Depressa, papai.
Uma jovem senhora, mais afetada, chegou a se esquivar quando o menino passou ao lado da mesa dela.  Imagino que temendo que um respingo pudesse estragar sua noite, que, como a nossa há pouquíssimo tempo atrás, prometia ser divina.

Passado um tempo, um pouco longo demais pra ser xixi, mas um pouco rápido demais, também, para o que a situação parecia exigir, Tomás aparece com um sorriso lindo no rosto, gritando da outra ponta do restaurante:

-  Foi só pum!

E cruzou o salão, todo cheio de si...


domingo, 28 de agosto de 2011

Edição Extraordinária 83 - Rigor metodológico



A centopéia foi, de longe, a grande estrela da festa do Tomás.  O troço é um trombolho, ocupa a área quase toda do jardim, mas os meninos ficaram enlouquecidos.  Na verdade, não só os meninos.  Uma hora eu tive problemas tentando conter Zé Álvaro, amigo dos pais e dos avós do aniversariante, que queria, a qualquer custo, entrar no brinquedo.


Só o processo de encher a centopéia deixava os meninos loucos. 

 
Demorou pra eles darem alguma bola pro salão de festa, que Carol decorou, ela mesma, com o tema do Nemo.  Era peixinho pra lá e pra cá, fundo do mar pra baixo e pra cima, balõezinhos fazendo polvos que espalhavam seus tentáculos pra todo canto. Os amigos do Clic encheram Tomás de tubarões e dinossauros simpatissíssimos...[1]


Bia, a encantadora amada do Tomás do Clic, me convocou pra caçar piratas em volta do prédio.  A menina me deu um cansaço de dar inveja ao Peter Pan com o Capitão Gancho.  Caminhei como nunca houvera feito em nenhuma das NefroWalks que a gente organizara[2].

Acho que com o meu narcisismo ferido com o sucesso que a centopéia estava fazendo, resolvi fazer uma surpresinha pro Tomás e fui fazer contato com o Buzz Lightyear para que ele desse uma passada no aniversário, com sua nave interestelar.

Fracasso total.  Fui  O Buzz foi repreendido por uma das convidadas que, muito brava, disse assim:
-  Você não é desta história!



O fotógrafo da festa registrou o momento exato em que o superherói tomava a descompostura...



[1]  A turma dele era a turma do Tubarão.

[2]  Houvera com organizara.  Vem ni mim, Domingos Paschoal Cegalla.






sábado, 27 de agosto de 2011

Chegou! - 181



Tomás andava uma ansiedade só.
Em julho, duas primas dele fizeram aniversário.  Dia 4 foi a vez da Ciça, minha mais nova.  Todo mundo ganhando presente e parabéns. 
Todo mundo!
E o aniversário dele, nunca que chegava. 
NUNCA!

O baixinho andava bravo que só.  É que este é o primeiro aniversário em que ele tem alguma consciência do que está se passando, eu acho.  E pra piorar, dia 25 caiu no meio da semana e os pais resolvem comemorar no sábado seguinte.
Tão de sacanagem comigo, deve ter pensado ele.

Resolver, não resolveu não.  Mas a solução dos problemas veio num crescendo.  Sexta passada, eu e Gêisa pegamos ele no Clic e fomos experimentar a bicicleta que seria o presente.  Num rasgo inesperado de consumo consciente, Tomás abriu mão da bicicleta do Ben10 (cento e tantas pratas mais cara) por um modelo lindo, sem griffe.  Nem dormiu.  Ficou andando de bicicleta na sala até altas horas...

Geniais como sempre, Carol e Diogo conseguiram uma solução intermediária pra controlar a ansiedade incontrolável do garoto.  No dia 25, ele ia levar um bolo pra cantar parabéns na escolinha, com os colegas de sala.  Lá foi ele dormir altas horas, de novo, contando, pela enésima vez, que o Lucca chegou e falou que o Chico queria brincar mas que a Fernanda Morena achou melhor esperar um pouco e que a Fernanda Outra levou um pedaço de bolo pra casa dela e a Letícia beijou ele quando o João pegou o prato da Bia, antes da Isa comer.  E a ladainha recomeçava, ad infinitum.
Acho que isto era a melhor definição dele de felicidade...

Agora, ele está no salão do prédio arrumando a festa de hoje à tarde.  Ciça, Lisa e Tia Sofia deram de presente o aluguel de um megabrinquedo pula-pula e sei lá o que mais, com TODAS as cores do arco-íris.

Os olhos deles estão faiscando, enquanto o brinquedo está sendo montado.  Agora ele deve estar formulando uma definição um pouquinho melhor do que é mesmo felicidade...

Não sei de quem ele ouviu, acho que foi da Tia Lisa.  Mas hoje, quando acordou, Tomás falou comigo:
-  Esta é a graça dos aniversários.  É um evento que acontece anualmente!

E ria, todo feliz...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Tá livre? - 180



Pessoal lá de casa não dá a menor bola pra recomendação do Xande, meu personal urologist, de levar vida normal.  Todo mundo fazendo como se os ouvidos fossem moucos, desde nascença.  Principalmente quando o assunto é pegar o carro.  Os meninos ficaram de tal forma aterrorizados com a perspectiva de eu assumir o volante de novo que montaram uma blitz mais severa que essas de lei seca perto de barzinho.

Num certo sentido, isto é até confortável.  Quando não tem carona disponível, eu rodo de táxi pra baixo e pra cima.  O lado bom é que não pago IPVA, não pago seguro, não pago estacionamento, não pago gasolina.  Maravilha das maravilhas...
Acho mesmo que, no final das contas, fica até mais barato, se for pra trazer as contas na pontinha do lápis.  E, de quebra, eu ainda fico livre da aflição de ser ameaçado pelos flanelinhas de plantão, quando o carro fica na rua.

O problema é que, de vez em quando, as cooperativas de táxi a quem recorro com freqüência me pregam peças, vez por outra, que me taiam o sangue.  Ou depois de me deixar um tempão lá fora esperando pelo carro, ligam dizendo que não vão poder me atender.  Ou, pior ainda, me deixam por um bom tempo esperando, de pé, sem ter idéia de quando aparecerão.

Muito bem.  Agora chega de choradeira.

Ontem fui surpreendido com o serviço encantador da Unitáxi[1], aqui em Belo Horizonte.  Pelo celular, me mandam mensagem dizendo que eu posso ir pra porta porque meu táxi está chegando.  No sms, mencionam o tipo do carro, placa, nome do motorista, um número de protocolo e um telefone pra contato.  Mais segurança, impossível.

Uma idéia simples, que faz toda a diferença quando você precisa mandar filho pequeno pra algum lugar, mãe idosa no médico, ou eu mesmo (como diz Tomás, velhinho, velhinho) pra qualquer canto.

Pra quem a vida toda viveu obcecado por encontrar diferenciais em mercados competitivos, marcas de serviço que evidenciem experiência de marketing, esta foi uma daquelas idéias que me deixaram querendo ter sido eu o inventor dela.

ps:  Não conheço ninguém nesta cooperativa e não estou ganhando um tostão deles.  Nem corrida de graça. 
Mas achei os caras inovadores e merecedores da menção. 

 
 
[1]  31 3524-3888

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Edição Extraordinária 82 - Vem ni mim, Primavera



Pra mim, viver é que nem a história do saci pererê.  Só consegue se manter vivo, quem acredita.  Na vida e no saci.  Simples assim. 
Eu sei.  Ainda falta um mês pra primavera.  Mas é igual menino em véspera de aniversário:  fica contando as horas, de pura ansiedade...  

Cheguei hoje no Meu Sítio e aquele ipê da história do Nhô, cheio de si, tinha florado geral.  Pela primeira vez, depois de ter sido desacreditado. 
E tá ainda mais bonito, numa seca de fazer dó.  Não tem um verdinho no pasto.  Tudo caqui de tanta secura.
E é no meio deste tempo, o ipê da Carla dá mostra de que viver pode ser tudo:  impreciso, perigoso, qualquer coisa.  Mas que sempre vale a pena, quando a gente acredita.

E o mais bonito é que, pra ajudar na fé, as orquídeas também dão o ar da graça.

A cada dia eu tenho mais certeza que é isto que me faz viver...







quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Desapego - 179



Lisa, minha filha do meio, vive brigando comigo porque eu sou muito agarrado com minhas coisas.  Meu armário tem uns troços que eu não uso há décadas, mas que eu não abro mão[1].  Já ela, de vez em quando, junta tudo que não usa mais e sai distribuindo.  É desapego, diz ela...

Depois que Luana, doida, me mandou os bijoux para as crianças da Aura, a coisa, graças a Deus, fugiu um pouco do meu controle.  Rosamaria, doida, inventou de abrir mão de um punhado de coisa dela pra fazer um brechó no dia das crianças.  Aí, Valéria, doida, inventou de convidar Rijane, doida, a abrir o ateliê dela pra gente fazer o brechó lá.  Luana então resolveu pegar tudo que estava sem uso na oficina em São Paulo e vai fazer uma Coleção de Bijoux Kids, especial pro dia da criança, pro brechó.

Tá armado o Brechó do Desapego.

Não satisfeita, Rosamaria anda pondo pilha em um punhado de gente.  Luzia já tá dentro.  Serginho e Márcia enfoguetaram a Ester[2], que pode espalhar a idéia pelo Brasil.
Enfim, a história pode virar um rastilho de pólvora...

Lembra quando a gente propunha o espírito do NefroColetivo, onde o conceito desejado era ninguém mandando e todo mundo tomando iniciativa?  Vale MESMO a pena você ir atrás do link pra entender a proposta.

Esta semana que vem vou tentar reunir todo mundo que está disposto a entrar de cabeça.  Ver se a coisa rola e em que condições.

No mínimo, a coleção Kids do Ateliê de Criações já está garantida...


[1]  No duro que eu acho que crio um relacionamento afetivo com coisa velha, principalmente camiseta.
[2]  Ester, doida, criou o FaceSolidário no facebook.




quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Edição Extraordinária 81 - Oncoguia



Adorei a visita que recebi esta semana no blog.  Não tenho a menor idéia de como eles me acharam.  Mas me deparei com este site, que pode bem servir de referência nestes tempos em que a paranóia do câncer anda rondando a cabecinha de um monte de gente[1].

Mas achei uma coisa da maior importância, esta fonte de informação.  É completa e fala de tudo que incomoda quem se descobre portador.  Pelo site, o OncoGuia existe pra promover o autocuidado neste terreno tão delicado.  No fundo, o propósito é ajudar o paciente a viver melhor a partir de uma postura que eles chamam de defesa ativa.

Não chega a ser um ovo de Colombo mas, no meu caso, penei um bocado até encontrar respostas pra questões que acho que eu nem queria me fazer. 
O projeto do OncoGuia é usar informação pra acabar com o medo e o preconceito e conseguir que a gente se cuide de um jeito novo, seja eu (ou você) portador ou não de câncer.

Os caras conseguiram articular um esquema inteligente com apoiadores e a lista de assuntos é extensa:  o site fala de tipos de câncer, tratamentos, direitos do paciente, espaço do familiar, prevenção, recomenda leituras, vídeos e projetos culturais, cursos multimídia sob a ótica do paciente, e, a parte que eu gostei mais, uma lista de exatos 62 blogs, cheios de informações relevantes mas plenos também de um saudável deboche de quem não quer deixar a vida ser dominada pelo terror.

Tem tudo, o bruto.

Recomendo vivamente que você dê uma passeada no site.  Pra se informar, pra praticar solidariedade e pra aproveitar e rir um pouco, nos blogs, do bom humor de quem tinha tudo pra entrar em desespero.



[1] Minhas fontes de informação onco não conhecem nenhum dos envolvidos mas referendam tudo o que está dentro do site.



segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Luana - 178



Ela é fã do Valente desde a primeira hora[1].  Uma, porque o Valente é um gato mesmo.  E outra, porque, diz ela, o Valente adocicou  seu pai, o grande rei Selgin, antes o Terrível, agora o Manso, de maneira irreversível.

Vive ajudando o Valente a inventar confusão.  Qualquer coisa, apóia.  Quando apareceu a idéia dos NefroWalkers, Luana enfoguetou com a criação do NefroDancers, uma hora que a gente pudesse, com a maior calma do mundo, dançar um bocadinho.  Ainda estamos pensando em chegar num formato adequado, que mobilize as clínicas todas de hemodiálise de Belo Horizonte.  Quando estiver ok eu boto a boca no mundo.

Ano passado, resolvi meu karma com meu aniversário, pedindo a todo mundo que me desse um brinquedo de presente.  Depois, eu e Tomás fomos entregar os brinquedos arrecadados pros meninos do Hospital da Baleia.

Luana achou a idéia bonitinha com força.  Designer de jóias e bijuterias, não pensou duas vezes.  De vez em quando me manda um pacotaço de presente com coisas de seu Ateliê de Criações e eu vou lá, fazer a alegria das crianças e adolescentes.  E de quebra, das mães também.

Da última vez, fui ajudar Maurilo, do Pastelzinho, a contar histórias pros meninos da Aura.  Pra minha surpresa, que achava que o interesse seria só pras meninas teens, meninos adoraram e pediram pra levar pras irmãs.  Uma festa só.

Agora nós estamos fazendo assim.  Com os presentes que ela me manda, eu levo um tanto pra embelezar as carequinhas da Aura e troco também bijuterias sofisticadas por brinquedos.
O espírito da idéia da Luana é deixar as crianças felizes.

E tá dando o mó certo ...




[1] Eu não.  O blog...





sábado, 13 de agosto de 2011

Edição Extraordinária 81 - A Catedral

Emerson costuma repetir esta história à exaustão.  Lembrei dela na festa dos 35 anos da FDC.  É a dos 3 pedreiros em uma construção que, quando alguém pergunta o que estavam fazendo, um responde assim:

-  Estou assentando uns tijolos.
O outro fala:
-  Estou levantando uma parede.
E o terceiro, todo orgulhoso:
-  Estou levantando uma catedral.

Mas é só ela que pode explicar como seu perfil delirante conseguiu colocar a Fundação Dom Cabral entre as melhores do mundo em educação executiva.  Foi por causa deste perfil delirante também que ele me tirou da Vale e me mandou pra França, quando a  FDC ainda era o Centro de Extensão da PUC.Minas.

Minha vida toda foi pé dentro, pé fora da FDC.  Às vezes, os dois pés dentro.  Mas nunca os dois fora.
Tanto que quando Emerson chamou eu e Marcelo pra cuidar das ilustrações do livro que conta o percurso da FDC[1], fiquei todo pimpão quando Marcelo, subversivamente, me incluiu na história.  Disse ele que o gordinho, levantando a catedral, sou eu.

Mas na festa, enquanto os discursos falavam da história da FDC, eu ia repassando minha história com ela e o tanto que ela foi importante na minha vida[2].  Claro, chorando...

O mais legal foi o jeito doido, delirante, com que o Coral dos Bigodudos [3], composto por professores e técnicos da FDC, contou do percurso.  Cheio de gente do Brasil todo, empresários e parceiros deste mundo afora, e o coral lá, contando sobre como a gente foi, mineiramente, comendo o Brasil pelas beiradas e depois a América, a Europa e hoje, todos os continentes.  Com o jeito informal que é a cara da nossa trajetória, que manteve sempre nosso compromisso com estas raízes e nossa ligação com as montanhas de Minas.

Diogo fala que eu estou delirando, mas tenho pra mim que um pedaço grande daquela catedral, fui eu que levantei...





[1]  Fundamentos da Empresa Relevante, Emerson de Almeida,  Campus

[2]  Camilo, meu chefe da Tv Alterosa, dizia que de marketing eu era até mais ou menos.  Bom mesmo eu era pra conduzir minha equipe, que trabalhava pra mim. 
Culpa da minha passagem pelo HEC, pela FDC ...

[3]  A edição finalizada ainda não está pronta.  Vai vendo esta que, assim que a cópia bacana estiver disponível, coloco aqui.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Edição Extraordinária 80 - 'Cê Jura?



Paulinha é filha de Rosana Brant e Paulinho Camilo.  A gente trabalhou junto quando Rosana[1] ainda era estudante de jornalismo na PUC.  Mas daí ela mudou pra Brasília e já tem bem mais de uns vinte anos que a gente não se vê.

Dia destes nos encontramos no facebook com a movimentação que a turma dela anda fazendo pra comemorar os 25 anos de formados.  De quebra, Paulinha virou minha amiga também.

Ocorre que minhas primas de Governador Valadares acharam esta foto no melhor Zatz style circa 1965, que, de imediato, virou minha preferida no perfil.  E Paulinha, com seus quase 10 anos, me achou a tchutchuquinha mais linda da internet.  Eu mesmo quase não me contenho, olhando esta foto.  Diz Regina, minha irmã, que estou a cara do Justin Bieber ...

Dia destes, Paulinha puxou assunto comigo e falei que eu era amigo de Rosana desde quando ela tinha sido minha aluna.  A pergunta, atônita, foi inevitável.
-  Nossa, mas você é mais velho que minha mãe?
Respondi, me achando:
-  Faço 60 este ano.
Até escutei a vozinha dela:
-  Sério?
E sumiu...

---

Ando achando que Paulinha, assustada com o fato de existir alguém no mundo mais velho que a mãe dela, vai me denunciar como perfil fake na rede.
 

ps:  o post de hoje é em homenagem à Lisa, que solta um "'cê jura?" sempre que a gente fala alguma coisa óbvia demais...


[1] Devo um imenso favor à Rosana.  Eu havia aprovado um texto charmosérrimo onde ela usara o termo imperdível.  O dono da agência aprontou o maior escândalo.  Foi o que me fez ver que ali não seria nunca um lugar onde eu seria feliz...




 



domingo, 7 de agosto de 2011

Edição Extraordinária 79 - Nhô e os ipês



Nhô era o caseiro da família de quem eu comprei o Meu Sítio.  Conhecia o local como a palma da mão.  Era benzedor, raízeiro, meio guru de todo mundo.  Um sábio.
Morreu com seus noventa e uns anos.  Mas até os 85, mais ou menos, me dava o maior coro, subindo e descendo grotas, comigo bufando atrás dele.  E ele só rindo de mim...

De vez em quando eu ia lá conversar na sua casa só pra ouvir ele contando história.  Uma destas vezes, me disse, olhando pela janela:
-  Gente é que nem árvore.  Vem agosto, e ela tá lá, sequinha, com as folhas todas caídas, e a gente pensando que ela morreu.  Mas chega a primavera e as folhas brotam de novo, deixando a árvore cheia de vida.  Filho, Paulinho, é a vida da gente continuando...

Sempre que morre algum querido meu fico lembrando do Seu Nhô.  E penso no Diogo que já me deu um neto, no papai, que não viu a vida dele continuando nos netos. 
Já contei esta história pro Emerson, quando o pai dele morreu.  Esses dias ando pensando mais no Bandeira, que perdeu sua Carla há pouco tempo.  E que conhecia a história, de quando sua mãe havia morrido.

Este ipê foi dado como morto por uns 3 caseiros nossos.  Foi a teimosia da dona da casa que manteve ele vivo.  Este ano, pela primeira vez, o tal ipê do Meu Sítio floresceu, provando que Gêisa estava certa.

Época boa pra Bandeira olhar pras filhas da Carla e ver ela de novo, no sorriso das meninas.
A cada dia, as flores vão nascer mais vivas e bonitas.

Aprendi com o Nhô que o ipê é a maior prova de confiança no futuro.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Cerimonial - 177



Desde quando eu tive a notícia do tumor, brigava feito um leão sobre um jeito certo de falar comigo.
Ainda outro dia, Fernando Lara, com sua ironia incomparável, me perguntava qual seria a liturgia adequada pra fazer frente à minha antipatia.  De que maneira se podia conversar comigo, quando fosse me visitar?
Eu, da minha parte, sempre admiti que eu era (meio) chato, apesar do povo aqui de casa me descer o bambu neste quesito.

Passados quase dois anos, a lsto É desta semana aparece com matéria falando sobre “O que não dizer a um doente”.  Eles tratam, na revista, justamente da ansiedade das pessoas que, sem saber o que dizer, se apegam a dejà vus que, a mim, pareciam infelizes e me deixavam uma arara.

Aliás, até hoje eu fico me roendo quando, em um almoço, a pessoa pergunta pra alguém aqui de casa, que comida eu posso ou não posso comer.
Pergunta pra mim logo, cacete...
Fico lembrando do Geraldo Magela, o Ceguinho, rindo de quem grita com ele, bem pertinho do ouvido.
Ele responde, gritando também:
-  Eu sou é cego.  Não sou surdo não!



Por isto é que eu falo logo que, se precisar ajuda, eu peço.  É possível que, pelo tanto que meu nariz é arrebitado, eu até prefira não pedir ajuda.  Mas daí a você querer decidir por mim se eu vou de taxi ou se você vai me dar carona no seu carro (por exemplo) é uma diferença gigantesca.

É nessas horas que, rabugento incomparável, aí eu pirraço mesmo.  Não há mula empacada que ganhe de mim nestas horas ...
Meus meninos, então, só olham pra cima, pedindo a Deus um pouco mais de paciência pra ajudar a suportar este pai deles.

De qualquer forma, enquanto eu arrumo um jeito de me adaptar à ansiedade de meus interlocutores, vai lendo a matéria da Isto É.  Vai te ajudar muito quando você se encontrar comigo ou dedicar um pouco do seu tempo a doentes amigos seus. 





quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Dono da bola - 176



A vida toda a gente sempre teve problemas, digamos assim, de conformidade, com os meninos.
Toda hora um de nós dois era chamado nas escolas porque algum(s) dele(s) estava(m) causando problemas.

Quase sempre[1], era problema do ponto de vista da escola, que preferia que nossos meninos fossem mais  comportadinhos.
Da nossa parte, nós sempre fizemos questão de cobrar da escola que orientasse sem castrar os meninos.  A gente nunca queria vê-los tranformados em bois de presépio.

Lembro de uma vez o Promove brigando comigo porque a Ciça tinha uma “atenção multiorientada”[2], e que ninguém conseguia merecer a atenção dela por muito tempo.
E a mulher lá, incomodada com minha cara de satisfeito, dizendo pra ela que caberia ao professor oferecer informação importante o suficiente pra atrair a atenção dela.  E que eu, da minha parte, ficava muito orgulhoso de conseguir estimular ela a focar sempre no que fosse mais importante.  A pobrezinha da orientadora acabou achando que, além da Ciça, EU também era meio problema.
Acho que não é a toa que todo mundo aqui em casa é bom de produção...

Minha paixão pelo CLIC, a escolinha do Tomás, vem daí também.  Eles lá estão sempre estimulando cada um a assumir seu papel de protagonista, em vez de ficar lá, feito um 2 de paus, obedecendo.

O efeito colateral é que Tomás deixa todo mundo quase doido no Meu Sítio[3].  É alguém falar qualquer coisa e a gente escuta a vozinha dele:
-  Deixa comigo, vô!
Alguém fecha a porteira, senão a vaquinha foge!
-  Deixa comigo, vó!
Seu Adílio, sela a Quênia, por favor, que eu quero dar uma volta!
-  Deixa comigo, gente!

O menino perdeu completamente a noção do perigo. 
Tudo agora é com ele.
Eu levo cada susto, que você não faz idéia.



[1] Eu diria até 99,999% das vezes, pra não parecer tendencioso, ...

[2] Adorei o termo usado pela pedagoga ...

[3] Fazenda, vovô!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Síndrome do Ninho Vazio - 175



Descrita pela primeira vez por Debrot (2011), in facebook no dia 16 de junho, a síndrome ocorre quando uma tristeza imensa invade você, ao ver o momento em que se depara com uma razoável estabilidade na vida, já comprou o carro que queria, o apartamento que queria, o sítio que queria, já fez meia dúzia de viagens que queria... e suas crias resolvem abandonar a casa, achando que são donas da situação. Debrot resume a síndrome com a frase:
... e por favor nada de "os filhos são criados para o mundo".
Ando sofrendo o impacto da síndrome. Diogo cuidando da vida com sua Carol, achando que o Tomás é só deles, Ciça auditando impacto ambiental pelo Maranhão afora e Lisa levando o atrevimento dela para o Rio de Janeiro.
Na hora que a gente conquista quase todas as coisas que quis um dia, lá vão eles, cada um buscando seu próprio caminho.

Ando pensando em criar uma república só pra pais, que funcione como um grupo de apoio pra quem estiver devastado pela síndrome. No duro que ia ser bacana. A gente pega um apartamentão e muda todo mundo, igual quando as comunidades hippies bombavam.

Fala se não ia ser mára? Você escolhe casais com os quais tenha uma boa relação e vai morar, todo mundo junto.
É a própria evolução do FRIENDS, só que em uma versão para a terceira idade.
Aí é só deixar um quarto para os filhos de todo mundo que, quando eles quisessem aparecer, ficava tudo preparado pra eles.

Estou cada dia gostando mais desta idéia.




I got it!