Na época, ninguém chamava de bullying. Era até meio que socialmente aceito, quase uma demonstração de
tirocícinio. Eu e Boni Fácil fazíamos um curso que nos exigia alguma proficiência em inglês. Acontece que, nascido em Rodeador, nas grotas
do Jequitinhonha, Boni tinha a maior dificuldade de falar o th ciciado que a professora queria da
gente. E ela, sempre que perguntava o
endereço, ouvia dele:
- Penafiel Street, tri
randred sarti.
Eu me estabacava no chão, rindo da dificuldade dele em falar
o 330 de seu apartamento em inglês.
Um dia, Boni me chamou e, com a cara e a voz mais suaves do
mundo, me explicou o quanto era cruel aquela brincadeira minha, que só ampliava
a dificuldade dele. E que ele não
entendia como me dava tanto prazer, sabendo da dificuldade enfrentada.
Aquilo estalou como um tapa na minha cara e, daquele dia em diante,
eu comecei a aprender a ter cuidado com o mal que minha língua ferina podia
fazer.
Já se passaram alguns anos[1], a coisa se repete na minha cabeça, como se estivesse acontecendo agora, e eu não me canso de agradecer o Boni pela forma que ele conduziu a coisa.
(Mesmo que ele, talvez, nem se lembre desse caso)
A história me ocorreu por causa do I Fórum de Educação que o Instituto Hartmann Regueira promove nos dias 31 de agosto e 01de setembro em Belo Horizonte.
Serão discutidos temas como o bullying no ambiente escolar,
a forma como a violência acaba nos atingindo a todos, o ponto de vista legal
mostrando como sua prática colide com os direitos fundamentais das crianças e
dos adolescentes, e, principalmente, casos concretos com estratégias bem sucedidas
de intervenção e prevenção do bullying.
Se você der uma passeada pela programação, vai ver só gente fera e conteúdos
extremamente relevantes.
Tirei o título deste post
do artigo da Lídia Aratangy, onde ela aponta que “o maior risco que ameaça
nossa juventude é o cinismo. Se os jovens acreditarem que não têm nada a ver
com o que acontece à sua volta, perderemos a chance de ter um mundo melhor”.
[1] O
curso que a gente fez foi em 75. Eu
ainda nem era casado e Boni Fácil já era um dos homens mais importantes da
minha vida.