quinta-feira, 31 de maio de 2012

Homo Ludens



Diogo anda fazendo um serviço em Mariana que o obriga a ficar trançando, pra lá e pra cá, durante a semana.  Acabou dividindo uma casa com um amigo de lá, prá poder não ficar muito exposto aos perigos da estrada horrorosa.  O que não nos autoriza a dizer que ele tem uma casa em Mariana.  Tomás chama de “a casa onde papai trabalha”.
Casa do papai é a daqui de Belo Horizonte.


Sábado passado, lá fomos nós dar uma força pro menino, conhecer o cantinho onde ele estava vivendo a maior parte do tempo.  Tomás olhava tudo como novidade.  Adorou a viagem, adorou o anoitecer, adorou as luzes de Mariana escondida sob as brumas de final de outono, adorou as igrejas recortadas contra o negro da noite, como se estivessem pairando sobre a cidade.


No outro dia, conhecendo pela cidade, começamos o passeio visitando a Igreja de São Pedro dos Clérigos, bem no alto da colina.  Tomás adorou a oportunidade de subir no alto de uma das torres e ver a cidade do alto.  Voltou não cabendo em si:
-  A cidade parece de brinquedo, lá de cima.
Igreja São Pedro dos Clérigos, Mariana, by Fabrício Alves

E, a partir daí, tudo virou de brinquedo.  Tomás olhava as pessoas lááá longe e dizia que parecia brinquedo.
À tarde, fomos fazer o passeio do Trem da Vale.  A gente via os meandros da rodovia pela janela do trem e lá vinha o sorriso dele:
-  Parece carrinho de brinquedo.
Via Ouro Preto se descortinando ao fundo e não dava outra:
-  Parece uma cidade de brinquedo


Tudo pra ele passou a ser parte dos jogos de toquinhos de madeira onde ele construía seus castelos, os cavalos e boizinhos de brinquedo que pastavam na fazendinha de brinquedo, as montanhazinhas de brinquedo, o riozinho de brinquedo que corria, preguiçoso, pelo vale de brinquedo...


O olhar virou outro.


Tenho pra mim que Tomás aprendeu uma das lições mais importantes de sua vida.  Que guardando o distanciamento adequado, os problemas, por maiores e mais complicados que pareçam, perdem sua gravidade e, de uma certa forma, viram um brinquedo que até nos permitem, a partir deles, reformular nossa visão do mundo.




terça-feira, 22 de maio de 2012

Falta



Deve ter algum dos tomos das Obras Completas do Freud falando nisto.  Ou talvez uns dois ou três seminários de Lacan falando do jeito complicado do mestre.  Eu, mais limitado, prefiro a definição que Marcelo Xavier me deu.  Diz ele que à medida que ele foi perdendo a mobilidade é que foi vendo como as ladeiras de Belo Horizonte iam ficando cada vez mais intransponíveis.


Não estou falando dos despenhadeiros do Santo Antônio.  Estou falando é daqueles aclives que um dia eu já achei suaves e que hoje, com a baixa da hemoglobina, subir eles pra mim é um desafio pra escalador nenhum colocar defeito.
Você, eu não sei.  Mas eu só me dou conta das coisas depois que elas me faltam.


Acho que é até por causa disto que eu ando cada vez mais incomodado quando vejo que as vagas para deficientes físicos andam cada vez mais ocupadas por deficientes mentais.


Paulinho Saturnino, quando era diretor da FAFICH, foi contestado por uma senhora dizendo que era privilégio.
Debochado, ele, no outro dia, colocou um cartaz na vaga:
-  Troco vaga privilegieada por duas pernas em bom estado.
Eu, outro dia, fui na PUC Minas fazer uma palestra com Laurinha Martins, da Cadeira Voadora .  Liguei antes, pra garantir que teria vaga pra ela no estacionamento.  
Acertei tudo.  Ou melhor, pensei que ...
Chegando lá, mesmo a PUC Minas tendo sido a primeira universi-dade a abraçar o projeto da inclusão [1], todas (eu quis dizer TODAS) as vagas de uma fila reservada para deficientes físicos estavam ocupadas.  E era vaga com a figurinha do cadeirante pin-tada em azul, o espaço para poder tirar a cadeira do carro e a pessoa se instalar pintado em amarelo rajado, ...  Tudo lá.  Não dava pra falar que não havia visto.


Tinham visto sim.  Os professores da PUC Minas estavam era cagando solenemente para a questão.


Foi um ótimo motivo pra inaugurar a idéia.  Eu tinha mandado fazer o sinal que ilustra este post em adesivo numa gráfica rápida.  Preguei nos carros todos.
De vez em quando, prego em supermercados ou shoppings.  Em lugares onde o pessoal não se deu conta ainda que a questão é de respeito com quem precisa.  Só pra eu e você nos darmos conta que este avanço é muito importante pra quem merece.


Da próxima vez que você pensar em usar esta vaga sem necessidade, olha pra vaga disponível mais perto do local onde você se encontrar e  pensa na pessoa que precisa tendo que romper por todo caminho, seja lá qual for a necessidade especial dela.    


Eu penso sempre na mamãe, com os joelhinhos fragilizados dela, fazendo o trajeto.
Ai de você, se eu estiver com ela, e seu carro, mesmo que só por um pouquinho, estiver ocupando a vaga de deficiente ou de idoso... 

[1]   Quando Bonifácio Teixeira, à época Pró-Reitor de Extensão, lançou o projeto Sociedade Inclusiva pouca gente entendeu do que se tratava...



A dica foi da Laurinha Martins

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Multiglota


Logo que eu comecei o blog, Bernardo, meu filho suíço[1], me alertou pra duas coisas.  Uma, que um dia eu ia ficar prisioneiro, tendo sempre que postar.  E a outra, que era fascinante passear pelo Analytics do Google, tentando entender como gente do mundo inteiro te descobre.
Há poucos dias aí pra trás est’A Saga bateu a barreira de 50.000 desocupados que acompanham as histórias do Valente.  O mais engraçado é que estes leitores, alguns fiéis e outros menos frequentes aparecem de mais de 60 países deste mundo de meu Deus.


Fico pensando que a gente até tem amigos em alguns destes países.  Mas, definitivamente, não consigo lembrar de nenhum contato meu na Sérvia, ou no Afganistão, ou Bósnia ou República Tcheca.  E, vem junto, como é que este povo destes lugares abre uma página em português e fica, em média, quase dois minutos.
Não pode ser só vendo as ilustrações do Valente...


Tudo bem.  A gente resolveu isto.


Pra você que é nerd, deve ser tranqüilo.  Mas, pra mim, é incompreensível.
Ocorre que Diego Balona, meu personal CITO – chief information technology officer, resolveu em 5 minutos uma coisa que me angustiava há muito mais tempo.  Instalou o Google Tradutor, com 53 línguas aqui na lateral direita da página de abertura.  Eu até testei em umas três ou quatro línguas que a gente consegue se comunicar.  Grosso modo, a tradução fica até aceitável


Daí, este post é pra vocês que eu não conheço.  Faça-me um favor:  você que é do outro lado do (meu) mundo, comente aqui, agora que as histórias do Valente podem ser traduzidas e, com alguma boa vontade, entendidas na sua língua, o que te faz acompanhar est’A Saga.


Mate minha curiosidade.  Por favor.


[1]  Que, ao que parece, está na bica de se casar qualquer dia destes com a flor mais bonita de Santa Rita do Sapucaí




sábado, 12 de maio de 2012

Mães, só tem uma

Tomate foi minha colega no Estadual da Serra.  Era, de longe, a mais bonita do pedaço.  Só que, além disto, era filha de Dona Marita, a diretora, o que fazia dela a mais inalcançável das garotas da sala.  O que, pra nós, não significava blicas...  Eu e mais uma quantidade imensa de gente éramos apaixonados por ela. 

Depois a gente nunca mais se separou.  Fomos pro Estadual Central, ela estava no meu casamento, nossos filhos estudaram juntos e por absoluta obra do acaso trabalhamos juntos, eu e o pai dos meninos.  Cada vez que eu estou com ela, parece que a gente se encontrou ontem no final da tarde.


Hoje ela falou de ser mãe.  Acho que vocês todas falariam algo parecido.  Olha só:


“Meu primeiro filho chegou quando eu tinha 7 anos. Era um boneco lindo de olhos azuis e que cabia direitinho nos meus braços de menina. Não sei por que dei a ele o nome de Bebê.


Passou o tempo, mudei de casa, de cidade, de profissão e de es-tado civil. E o Bebê sempre por perto: às vezes, esquecido num fundo de armário ou dentro de uma caixa com coisas do passado.


Sempre quis ser mãe. E confesso: já casei pensando nos filhos que um dia teria. E não é que eles vieram rapidinho?


Fui uma grávida de vestidos alegres. Tomava banhos demorados para sentir a barriga e os seios fartos. Desenhei e mandei fazer camisolas coloridas e cheias de flores para ir para a maternidade. Uma enfermeira comentou: “ essa mãe parece que veio de férias para um hotel”. Morri de rir!


Esperei e me preparei com imensa alegria para a chegada de meus filhos. Fazia ultra som de olhos fechados e pedia ao médico que não me falasse o sexo dos meus filhos. Queria surpresa!!!


E eles chegaram de parto normal, fazendo um enorme bué! Francisco (nome escolhido quando eu era menina) nasceu no dia 8 de setembro de 1979. Gabriel veio ao mundo em 1 de outubro de 1982.


Estão grandinhos, portanto. São filhos, filhotes, filhinhos sempre. 
E o Bebê? Vai muito bem, obrigada. Atualmente, vive numa gaveta e usa o primeiro macacão que o Chico vestiu.


Rosangela Guerra”


Fala se eu não tinha razão de ser doido com esta menina.  Fala?...

terça-feira, 8 de maio de 2012

Receita


Lá vai a receita do Amor aos pedaços.


Ingredientes
-  3 xícaras de (chá) de farinha de trigo
-  1 colher de (sopa) de fermento
-  2 colheres de (sopa) de manteiga
-  1 xícara de (chá) de açúcar
-  4 ovos


Recheio:
-  1 abacaxi
-  2 xícaras de (chá) de açúcar
-  1 colher (sopa) rasa de manteiga
-  1 coco ralado
-  3 ovos


Cobertura:
-  açúcar e canela a gosto


Modo de preparo


Massa: 
Misture todos os ingredientes da massa, abra com o rolo e divida em duas partes
Reservar.


Recheio: 
Triturar o abacaxi no liquidificador.
Numa panela, acrescentar os outros ingredientes e levar ao fogo até secar o caldo
Preaquecer o forno.
Untar uma assadeira, forrar com um pouco da massa, distribuir o recheio e cobrir com a outra parte da massa.
Assar em forno médio.
Na hora de servir; cortar em quadrados e passar no açúcar com canela.


Importante:  
Separe uns quadradinhos pra mim e me chame.




ps:  Só pra lembrar a você que amanhã é o lançamento do livro da Renata Feldman na Biblioteca Pública, 19:30

sábado, 5 de maio de 2012

Rapidinha - Super Lua



Hoje, pra quem não é astrônomo, é dia de Super Lua.
Convém ficar de olho porque, a melhor hora pra ficar encantado com ela é quando tá perto do horizonte, lá pelas 19:00 horas.  Deve estar imensa, cerca de 16% maior que o normal.
E isto é coisa que só acontece de vez em quando.  A última foi 19 de março de 2011.  Aliás, dia de São José.
Melhor pedir a proteção dele,  porque, diz a lenda, que bicho fica doido e a gente se comporta mal (um pouco pior que o normal).[1]


Aproveita, quebra tudo,  fala que a culpa foi da lua e vê se cola...


[1]  A palavra lunático deve vir daí...


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Diamantina



Aproveitando o feriado do Dia do Trabalho, Tomás foi a Diamantina com o povo aqui de casa e acabei me lembrando de uma história que Léo, meu guru japa, me aplicou. É do livro Palavras Andantes, do Eduardo Galeano, que falei aqui algumas vezes.  Lembrei do pedacinho que fala assim:
“... Por favor, estou rogando, não me ofenda perguntando se esta história aconteceu.  Eu estou oferecendo-a para que o senhor faça dela o que melhor lhe aprouver.  Não lhe peço que o senhor descreva a chuva daquela noite da visitação do arcanjo:  exijo que o senhor me molhe.  Decida-se, senhor escritor, e pelo menos uma vez seja a flor que perfuma em vez de ser o cronista do aroma.  Escrever o que se vive é coisa de pouca ou nenhuma graça.  O desafio está em viver o que se escreve; e na sua idade já vai sendo hora de que o senhor fique sabendo. ...”


Pois é.  Definitivamente, a viagem que Tomás fez não foi a mesma que a família, que estava com ele o tempo todo, foi.  Um pouco, porque, a excitação de contar a história fazia dele eletricidade pura.  E muito, porque ele me puxou.  Ponto.


Começou a história contando a experiência dele no Leite ao Pé da Vaca de Curvelo[1], que foi mmmuito legal.  Diz ele que foi a parte mais legal da viagem[2].  E contava:  Começa com você colocando o banquinho assim, ó, pertinho da vaca, ó, enquanto ela fica assim, ó, e você vai fazendo assim, ó, com a mão.
Diz o povo que o leite jorrou mesmo na canequinha que deram pra ele.


Preocupado com a interação, Tomás tentava acordar o pai, coitado, devastado pelo tradicional churrasco de comemoração do ani-versário do Ginástico, que jazia, inerte, no chão.  O que fazia com que Tomás, aflito, repetisse a cada parte mais legal da história:
-  Pai, você tá perdendo...


Aí, teve um dia que foi mmmuito legal.  A parte mais legal da viagem.  Foram ver um caboclo bateando diamante e ouro.  Tomás voltou com uma sacolinha plástica repleta de pedregulhos, diamantes puros, segundo ele.  Despejou tudo no tapete da sala.
O cara pegava uma peneira de ferro, e fazia assim, ó, até aparecer o diamante.  E ele fazia assim, ó, e aparecia ouro também.


A vesperata também é mmmuito legal.  A parte mais legal da viagem.  Era uma quantidade de menino do meu tamanho, que cantava mmmuito bonito.
Sem contar com o hotel, que é mmmuito legal.  De longe, a parte mais legal da viagem.  Dormiu numa cama sozinho e tinha um café da manhã mmmuito legal.  A parte mais legal da viagem.


Tomás procurando diamante, com a companheira inseparável, 
a tal fita colorida no pulso
Domingo ele ligou pra mim antes de entrar numa gruta mmmuito legal que ele visitou.  A parte mais legal da viagem.  Logo na entrada eles colocaram uma fita colorida na mão dele, pra ele poder voltar.  Por isto que eu e o Tio Cris tivemos que colocar também, porque vai que a gente aparece em Diamantina e quer ir na gruta também?  Melhor deixar eu e Tio Cris com os punhos coloridos, mesmo sem nenhum plano de ir a Diamantina nos próximos dias meses.  É que, não sei se já falei com vocês, lá é mmmuito legal.  A parte mais legal da viagem, Diamantina...

[1]    Nos meus tempos de Cedro era do Dr. Guilherme Mascarenhas, o velhinho mais fantástico da família.  Não sei se hoje ainda é...


[2]    Tomás repetiu essa qualificação mais umas quatro ou cinco vezes.



terça-feira, 1 de maio de 2012

Amor em Pedaços



Conheci Renata nos corredores da faculdade onde a gente dava aula.  Nunca tive coragem de puxar assunto, do tanto que ela exalava doçura, enquanto conversava com as pessoas.  No sorriso, no menear de cabeça, na escolha precisa das palavras...
Ficava eu, morrendo de vergonha, e ela, tímida, cada um no seu canto, sorrindo pro outro.


Depois, o blog nos aproximou de vez.  Eu mandava notícias por est’A Saga, e ela, no Renata Feldman, que me deixa sempre encantado.  Tudo nela é assim, cheio de zelo e doçura.  Ela parece mesmo um quadradinho de amor em pedaços, dos que Tia Loló[1] fazia lá em Governador Valadares .


Aprendeu com a mãe o gosto pela leitura.  Nela, os textos, poema ou prosa, são de uma doçura, de uma suavidade, incomparáveis.


E é aí que os escritos da Renata se distinguem: eles são saborosos.  Trazem, incorporados neles, o gosto e a doçura da autora.  Só que, além do sabor, os textos vem carregados de uma empatia, de um senso de justiça, de um grau de compaixão tão elevados que o leitor é sempre desafiado a sair do lugar do deleite para a disposição de mudar seu mundo.  Ao final, a gente sempre acha que passou de leitor a protagonista.


Renata é feita daqueles bonequinhos de açúcar cândi que avó da gente colocava no chá.  Acho que os bonequinhos de açúcar cândi nem existem mais.  Foram todos preservados na Renata.  


Pelos menos a nós coube o Amor em Pedaços.  Que ela lança no dia 9 de maio, quarta feira, 19 horas, na Biblioteca Pública, e no sábado dia 12, véspera do dia das Mães, 10 e meia, no Café Book.
Vai lá.  O melhor é que esta doçura toda não engorda...  


[1]  E que a Taúta, herdeira, continua com a tradição.

ps:  Fala se ela não é uma doçura.  Fala?