Redator de publicidade é tudo doido. Doido turbo.
Não tem um que se encaixe nos padrões mínimos de normalidade que nós, normais, achemos aceitáveis. Você passa uma linha entre o neurótico e o esquisofrênico e eles todos se encaixam em algum ponto entre os dois limites.
Mário Ribeiro, por exemplo, é o depressivo com mais fé no futuro que eu já vi.
Artur Eduardo[1] já comprou briga com uma Mitsubichi Pajero, que acelerou enquanto ele atravessava o sinal de pedestre[2]. Colocou as mãos na cintura, parou no meio da Afonso Pena, e bufava igual um miúra desses de tourada espanhola, desafiando o motorista.
David Paiva, que eu apresentei à minha filha Lisa, recém aprovada no vestibular de Publicidade da PUC, trombeteou, como se em um púlpito estivesse:
- Minha filha, vá ser prostituta na vida, que você vai dar mais orgulho ao seu pai.
Ethel, você encontra ela nos ares, pilotando uma vassoura. A empresa dela chama Das Bruxas ...
Tá bom ou quer mais?
Você que entrasse, de sopetão, no meio de uma conversa desse povo e ia achar que eles não falam coisa com coisa. As frases nunca são iguais às suas, com sujeito, verbo e predicado.
Jakson Zuim era um exemplo ótimo da raça.
Uma vez elogiei, ao vivo, um anúncio que ele fez pra P&B, do Chico Bastos, para o dia 21 de abril. Perguntei se ele tinha uma cópia da peça, de tanto que eu gostava do texto.
Zuim sentou na Olivetti e vomitou pra mim, na hora, esta maravilha:
TESTAMENTO
Alferes de cavalaria, meus pertences são poucos;
não peneirei o ouro nos córregos de Vila Rica.
Nem descobri diamantes nas lavras do Tejuco.
Minha riqueza é diversa e meu legado é de idéias.
Que não pagam o quinto, nem se perdem com o tempo.
Idéias livres, germinando entre os homens.
Idéias que a própria morte não apagará.
À Gonzaga, deixo os campos do exílio, o consolo do verso, a tristeza de Marília.
À Cláudio Manuel da Costa, deixo a cela da prisão, e o fim prematuro, em circunstâncias duvidosas...
À todos os outros, deixo o degredo perpétuo. Longe das montanhas, sem pátria e sem família.
Á Peixoto, deixo Bárbara Heliodora sob forma de lembrança, transfigurada em saudade.
Aos homens do futuro deixo meu corpo dividido.
Uma bandeira vermelha e branca.
Uma frase em latim.
E as idéias, os ventos da liberdade...
À Gonzaga, deixo os campos do exílio, o consolo do verso, a tristeza de Marília.
À Cláudio Manuel da Costa, deixo a cela da prisão, e o fim prematuro, em circunstâncias duvidosas...
À todos os outros, deixo o degredo perpétuo. Longe das montanhas, sem pátria e sem família.
Á Peixoto, deixo Bárbara Heliodora sob forma de lembrança, transfigurada em saudade.
Aos homens do futuro deixo meu corpo dividido.
Uma bandeira vermelha e branca.
Uma frase em latim.
E as idéias, os ventos da liberdade...
Já vi este texto em uns quatro ou cinco blogs ou sites ligados à cultura mineira. Nenhum deles citando ou Zuim ou a P&B como fonte.
Eu tenho loucura com “as idéias, os ventos da liberdade, ...”
14 comentários:
Caramba, arrepiei inteira... Nem te conto, Paulinho, mas uma semana antes tive a impressão de ver o Zuim passando num táxi. Há anos não o via (e agora, só quando for ao encontro dele o verei novamente), mas parece que minha vassoura me permitiu um último vislumbre dele ainda aqui.... vai explicar!!!Viva Zuim, amigo inesquecível que deixou a saudade gritando no peito de cada um de nós! Beijos da Ethel
Zé Luiz me contou umas histórias impublicáveis, imitando o vozeirão dele...
Beijos
Vc me emocionou, Paulinho!!! Nós que vivemos boa parte das nossas carreiras, tendo o privilégio de conviver com êle, temos obrigação de trazer à tona, textos brilhantes como este! Tbém tenho umas histórias e comentários dêle, impublicáveis!Rs... Valeu meu caro! bjs
Beijo pra nós, Patrícia.
ps: Tá me dando uma vontade louca de reunir os textos e histórias impublicáveis do Zuim.
"Ô Barão..."
Todos os que tivemos o privilégio de conhecer, trabalhar, conviver com o cidadão, temos incontáveis ótimas histórias pra guardar na memória e pra comentar nos botecos em homenagem a esse raro ser humano.
Maravilhosamente 'obituado' pelo Rodrigo Moreira no texto que reproduzo a seguir:
"Partiu um louco, daqueles verdadeiros, que sabiam ler livros. Por isso, enxergava muuuito além. Nunca foi o verniz que agradava aos olhos, mas a madeira, que teimava em se mostrar firme por trás de qualquer opinião desavisada.
Partiu um poeta, inédito, mas da melhor linhagem. Quem te leu, verá.
Pelos nossos inúmeros belos porres, obrigado.
A gente se vê daqui a pouco, amigo: Jackson ZUIM. Deus te recebe como colega."
Abs.
Colega, pra Deus, cabe como luva pro Zuim, Tiago.
Beijos
"nós, normais", PC?
Lindo texto.
Tô te entendendo não, Boneca.
Qual o problema?
PC, muito legal o seu texto. Essa turma é doida mas é boa. Gosto muito de todos eles e elas.
Legal era o Zuim, Zé.
Ainda bem que a Lisa não seguiu os conselhos do Zuim, por que ela só te leva alegria. Beijos, te vejo no sábado
O conselho foi do David, Nando.
Zuim só xingava cliente.
E Lisa só me dá alegria...
Nunca vou entender porque temos que ficar órfãos de amigos,inteligência,sabedoria,cultura,valores e gente.Todos que tivemos de Papai do céu o privilégio de tê-lo com certeza nesse momento estão órfãos,quando meu amigo Alvinho declara esse vazio eu entendo,pois sinto o mesmo;não sei porque tiram tanto de tantos.
Pois é, Teresa. Tenho conversado muito com ele, esses dias.
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