quarta-feira, 13 de julho de 2011

Zuim - 170



Redator de publicidade é tudo doido.  Doido turbo.
Não tem um que se encaixe nos padrões mínimos de normalidade que nós, normais, achemos aceitáveis.  Você passa uma linha entre o neurótico e o esquisofrênico e eles todos se encaixam em algum ponto entre os dois limites.

Mário Ribeiro, por exemplo, é o depressivo com mais fé no futuro que eu já vi.
Artur Eduardo[1] já comprou briga com uma Mitsubichi Pajero, que acelerou enquanto ele atravessava o sinal de pedestre[2].  Colocou as mãos na cintura, parou no meio da Afonso Pena, e bufava igual um miúra desses de tourada espanhola, desafiando o motorista.
David Paiva, que eu apresentei à minha filha Lisa, recém aprovada no vestibular de Publicidade da PUC, trombeteou, como se em um púlpito estivesse:
-  Minha filha, vá ser prostituta na vida, que você vai dar mais orgulho ao seu pai.
Ethel, você encontra ela nos ares, pilotando uma vassoura.  A empresa dela chama Das Bruxas ...
Tá bom ou quer mais?

Você que entrasse, de sopetão, no meio de uma conversa desse povo e ia achar que eles não falam coisa com coisa.  As frases nunca são iguais às suas, com sujeito, verbo e predicado.

Jakson Zuim era um exemplo ótimo da raça. 
Uma vez elogiei, ao vivo, um anúncio que ele fez pra P&B, do Chico Bastos, para o dia 21 de abril.  Perguntei se ele tinha uma cópia da peça, de tanto que eu gostava do texto.
Zuim sentou na Olivetti e vomitou pra mim, na hora, esta maravilha:

TESTAMENTO

Alferes de cavalaria, meus pertences são poucos;
não peneirei o ouro nos córregos de Vila Rica.
Nem descobri diamantes nas lavras do Tejuco.
Minha riqueza é diversa e meu legado é de idéias.
Que não pagam o quinto, nem se perdem com o tempo.
Idéias livres, germinando entre os homens.
Idéias que a própria morte não apagará.
À Gonzaga, deixo os campos do exílio, o consolo do verso, a tristeza de Marília.
À Cláudio Manuel da Costa, deixo a cela da prisão, e o fim prematuro, em circunstâncias duvidosas...
À todos os outros, deixo o degredo perpétuo. Longe das montanhas, sem pátria e sem família.
Á Peixoto, deixo Bárbara Heliodora sob forma de lembrança, transfigurada em saudade.
Aos homens do futuro deixo meu corpo dividido.
Uma bandeira vermelha e branca.
Uma frase em latim.
E as idéias, os ventos da liberdade...

Já vi este texto em uns quatro ou cinco blogs ou sites ligados à cultura mineira.  Nenhum deles citando ou Zuim ou a P&B como fonte.

Eu tenho loucura com “as idéias, os ventos da liberdade, ...”



[1] O primeiro Clio da publicidade mineira pela Setembro.

[2] Que estava aberto pra ele, diga-se de passagem.

14 comentários:

Anônimo disse...

Caramba, arrepiei inteira... Nem te conto, Paulinho, mas uma semana antes tive a impressão de ver o Zuim passando num táxi. Há anos não o via (e agora, só quando for ao encontro dele o verei novamente), mas parece que minha vassoura me permitiu um último vislumbre dele ainda aqui.... vai explicar!!!Viva Zuim, amigo inesquecível que deixou a saudade gritando no peito de cada um de nós! Beijos da Ethel

PC disse...

Zé Luiz me contou umas histórias impublicáveis, imitando o vozeirão dele...
Beijos

Patricia Avelar disse...

Vc me emocionou, Paulinho!!! Nós que vivemos boa parte das nossas carreiras, tendo o privilégio de conviver com êle, temos obrigação de trazer à tona, textos brilhantes como este! Tbém tenho umas histórias e comentários dêle, impublicáveis!Rs... Valeu meu caro! bjs

PC disse...

Beijo pra nós, Patrícia.

ps: Tá me dando uma vontade louca de reunir os textos e histórias impublicáveis do Zuim.

Tiago Cruz disse...

"Ô Barão..."

Todos os que tivemos o privilégio de conhecer, trabalhar, conviver com o cidadão, temos incontáveis ótimas histórias pra guardar na memória e pra comentar nos botecos em homenagem a esse raro ser humano.

Maravilhosamente 'obituado' pelo Rodrigo Moreira no texto que reproduzo a seguir:

"Partiu um louco, daqueles verdadeiros, que sabiam ler livros. Por isso, enxergava muuuito além. Nunca foi o verniz que agradava aos olhos, mas a madeira, que teimava em se mostrar firme por trás de qualquer opinião desavisada.
Partiu um poeta, inédito, mas da melhor linhagem. Quem te leu, verá.
Pelos nossos inúmeros belos porres, obrigado.
A gente se vê daqui a pouco, amigo: Jackson ZUIM. Deus te recebe como colega."

Abs.

PC disse...

Colega, pra Deus, cabe como luva pro Zuim, Tiago.
Beijos

Bonequinha de Porcelana disse...

"nós, normais", PC?

Lindo texto.

PC disse...

Tô te entendendo não, Boneca.
Qual o problema?

José Luiz da Silva disse...

PC, muito legal o seu texto. Essa turma é doida mas é boa. Gosto muito de todos eles e elas.

PC disse...

Legal era o Zuim, Zé.

Nando disse...

Ainda bem que a Lisa não seguiu os conselhos do Zuim, por que ela só te leva alegria. Beijos, te vejo no sábado

PC disse...

O conselho foi do David, Nando.
Zuim só xingava cliente.
E Lisa só me dá alegria...

Teresa Vergueiro disse...

Nunca vou entender porque temos que ficar órfãos de amigos,inteligência,sabedoria,cultura,valores e gente.Todos que tivemos de Papai do céu o privilégio de tê-lo com certeza nesse momento estão órfãos,quando meu amigo Alvinho declara esse vazio eu entendo,pois sinto o mesmo;não sei porque tiram tanto de tantos.

PC disse...

Pois é, Teresa. Tenho conversado muito com ele, esses dias.