sexta-feira, 3 de junho de 2011

Edição Extraordinária 70 - Dique, o gato

De vez em quando Mamãe me confessa o maior medo que ela tem de morrer: é chegar lá no céu e encontrar Papai rodeado de anjinhas e, ao ver ela, velhinha, velhinha, dar um perdido e deixar ela sozinha.

É que Papai era um gato mesmo.  Um autêntico bofe.  Campeão de pentatlo militar nas Agulhas Negras, forte como um touro.  Ia fazer 90 anos amanhã.

Não chegou a completar 50 anos.  Mamãe passou mais tempo viúva do que casada com ele.  E me encanta como ela, até hoje, curte uma paixão pelo Dique, enchendo os olhos dágua, quando fala dele.  Outro dia contou pra Ciça um sonho dela com Papai.  Mamãe tinha deixado cair uma casquinha de pão no seu colo e ele, com a maior cara de safado, falou, com olhar sedutor:
-  Posso tirar?
Foi o que bastou.  Ciça saiu gritando pela casa:
-  Olha a Vovó tendo sonhos eróticos!!!
Mamãe ficou vermelhinha, igual uma adolescente.

Papai deixou pra gente umas lições muito importantes no tempo que eu vivi com ele e pelas histórias que eu recuperava, de amigos dele.  Todas elas repletas de demonstrações de amizade, alegria, solidariedade e lhaneza.
Até hoje a gente encontra pessoas que me falam:
-  Seu pai era meu melhor amigo.

Mamãe conta histórias deles com a maior dificuldade pra sustentar os sete filhos e, passeando à noite, deixavam de comer um bombom porque o dinheiro poderia fazer falta pra gente.
A gente tinha uma Kombi, o único carro, na época, onde caberia todo mundo.  Resultado: os amigos nossos se apinhavam no carro conosco e papai achando a maior graça.

Dr. Celso, grão embaixador de Virginópolis e Guanhães no Rio de Janeiro me falou uma vez que não entendia como papai conseguia  bancar o lanche, todo domingo, de TODOS os parentes de Valadares estudando em Belo Horizonte.  Acho, Celsinho, que o grão embaixador em Belo Horizonte, na época, era ele.

Um lord, Papai todo domingo de manhã ia ao Abrigo de Bondes comprar um molho de margaridas e gipsies pra Mamãe. 
Toda vez que Vovó Maricas vinha a Belo Horizonte, Papai virava meio mundo pra comprar caqui pra ela.  Uma vez, não conseguiu.
Vendo a cara desconsolada dele, vovó cochicou no seu ouvido, marota:
-  Liga não, Henrique.  Eu sempre tive vergonha de te falar que eu não gosto de caqui.

Foi dele que a gente herdou nossa alegria e lisura nas nossas relações.  Tenho pra mim que Papai não podia ter pensado em herança melhor.  Por isto que, neste sábado, nós vamos na Missa dos 90 anos às 18:00 e pra quebradeira, na NefroGafieira de noite.
Se eu fosse você, vinha conosco.



Era esta a música que Papai assoviava sempre e eu mencionei aqui

8 comentários:

Anônimo disse...

Nos amávamos muito este tio querido.Ele era muito especial.E sofremos com voces a doença e perda dele ainda tão novo.Beijos Patricia

PC disse...

Bora comemorar o aniversário dele conosco na NefroGafieira, Patrícia.

nando disse...

Pena que nós todos tivemos poucos anos com a presença física DELE, mas até hoje temos gratas lembraças dos momentos que passamos juntos. Nando e acho que ele nos deixou como herança esta mania louca de transformar tudo em festa

PC disse...

Louca nada, Nandão.
Acho até que a gente festeja pouco.

Nando disse...

Quem está na foto com papai e mamãe? Seria a vovó Maricas e a filha mais nova dela?

PC disse...

Exatamente. A mais nova das Meninas da Maricas

Mirna Pires disse...

É por isso que não(Oh. mentira sô) gosto de ler esses post seu. É choro na certa. Obrigado Cesão por me emocionar tanto. Te amo. Beijos

PC disse...

Preocupa não, Mirna.
Eu choro mais que você...
ps: Com aquele cabelinho arrumadinho, Célio também era um gato, minha fia.