quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Veja bem, ... - 10



Tudo bem que eu não sou dos mais espertos. Mas foi curioso como, neste processo todo, ninguém fala a palavra câncer comigo hora nenhuma. Quis muito que, desde a primeira hora, todo mundo soubesse de tudo. Falei logo com Gêisa e os meninos, com meus irmãos e meus cunhados, escancarei logo tudo com mamãe. Soldado, meu irmão, me perguntou até onde mamãe sabia.
Tudo, eu falei.
Mas parece que há meio que um código quando as pessoas conversam com quem está com câncer, que faz o fardo ficar mais difícil de ser carregado.

Todo mundo só fala em tumor, com medo da vibe da palavra. Ocorre que, pra mim, sempre que eu tinha tumor nas minhas férias em Valadares, era aquele tufo branco que aparecia por causa das ínguas, e que quando estourava saía pus.
Era batata.
Só passar basilicão e pimba. A gente drenava o furúnculo até a saída do carnegão. Depois, era passar arnica e tudo ficava bacana[1].

Será que era isto que o Xande ia fazer no meu rim?

Então, pra que a consulta com o oncologista, que todo mundo falava pra eu ter, depois da operação, se já teria limpado o tumor?


Acho que foi por isto que eu me apaixonei com o livro do neuropsiquiatra francês David Servan-Schraiber, que saiu pela Fontanar. O livro chama Anticâncer. Ganhei dois, de dois amores da minha vida, Adriana e Cecília. Ele começa o livro já desnudando o estigma. Logo no primeiro parágrafo, na Introdução, ele chuta o balde e diz, assim, de cara:

“ Todos temos um câncer dormindo em nós. Como todo organismo vivo, nosso corpo fabrica células defeituosas permanentemente. É assim que começam os tumores. Mas nosso corpo é também equipado com múltiplos mecanismos que lhe permitem detectá-los e contê-los. No Ocidente, uma pessoa em cada quatro vai morrer de câncer, mas três em cada quatro não morrerão. Para estas últimas, os mecanismos de defesa terão derrotado o câncer.”

Fala se a conversa assim não é mais legal que o cerca-lourenço...?

Vou dar é um jeito de facilitar a vida dos meus mecanismos de defesa pra eu ficar naqueles ¾ bacana.



[1] É engraçado, mas eu só me lembro de eu com íngua nas férias e na casa da vovó. Jeito ruim de anuviar o prazer das férias...


14 comentários:

Lucia disse...

Tô com esse medo, quando olho para as roupas que não tenho usado já algum tempo!bjs

PC disse...

Foi pra me ajudar a transformar o medo em vontade é que os livros foram bons.
Mais na frente falo do Amor, Medicina e Milagre, que é fantástico.
Depois te mostro.

Beijos

Unknown disse...

C-Â-N-C-E-R. Câncer. Falei.Ufa...É fácil não. E eu pensando que, daquela forma, a gente estava tornando as coisas mais leves...(E eu cada dia mais esquisita)

Me permite uma licença poética (salve João Gabriel de novo): já tô achando este tal de câncer abençoado, pois estamos, melhor dizer estou, aprendendo um tanto de coisas, meio que exorcisando os meus demônios também. Acima de tudo que " a vida não é só isso que se vê, é um pouco mais, que os olhos não conseguem perceber..." Pode ser mesmo que as coiisas pro Richarlyson sejam bem mais duras.

E vamo que vamo

Bjteamo

Clarice disse...

Só tive acesso ao blog hoje, mas já li todos os capítulo. Estou simplesmente ALUCINADA!
Minha iRmã já sabe da existência, agora quando ela vai ler, não tenho nem ideia! ahahahha
Aguardo os próximos capítulos!
Beijos
Clarice

Unknown disse...

Tio Cesinha,só entrei hoje no seu blog e AMEI todas as suas historias!
Estou esperando as proximas!
Beijos
Cris

PC disse...

Leu?
Num tô acreditando...

beijos.
Mudei o título da primeira história para "A morte da bezerra".
Leva ela pra Monika.

PC disse...

Tem muito mais, Regi, além do que se vê

PC disse...

Agora vai ser outra batalha até a Cacá, a Cris e a Glaucia se inscreverem como seguidoras...

Clarice disse...

Não mesmo, já estou seguindo! aahhaha

PC disse...

Tá seguindo, fife?

Luli disse...

Sobre a vibe do câncer: uma grande amiga minha também está com câncer. Ao falar da doença para as filhas, 3 lindas moças, uma delas falou: Mãe, vamos falar para todo mundo que é câncer, assim, elas vão mandar a vibe do tamanho que precisa. Disse tudo!

PC disse...

Beija estas meninas por mim

Emilia Osorio disse...

E quem falou que eu sou esperta?
Beijos
Omilia

PC disse...

A mais de todas.

Beijos