terça-feira, 3 de abril de 2012

Compulsivo



Não sei com você.  Mas comigo é batata.
É só falar que eu não posso que garra uma vontade louca de transgredir.  É incontrolável.

Foi assim comigo, quando eu soube que não podia beber água.  Ou, pelo menos, foi isto que eu ouvi quando Xande, meu personal urologist, me falou que eu teria que controlar a ingestão de líquido.  E o resultado é que entre uma diálise e outra lá ia eu perder de 4 pra 5 kilos [1].  Já teve vez que eu tinha que fazer uma sessão suplementar, e tudo tendo a sensação  de ter bebido menos água que um camelo atravessando o Sahara[2].

Meu ganho foi aparecendo devagarzinho.  Primeiro, descobri que o gelo me permitia não querer água.  Mas aí andava pra todo lado com uma garrafa pet de água congelada.  Depois, congelava fruta, que foi uma das melhores sacadas.  Colocava fruta no congelador e depois ia comendo, quando a sede apertava.  O povo aqui de casa, óbvio, não tinha a menor paciência porque o congelador da geladeira  parecia o Mercado Central [3].
Depois até consegui mudar o tamanho das pedras de gelo da geladeira aqui de casa.  É que quando eu colocava aqueles cacetes de cubos, já ia minha cota quase toda.

Agora a coisa anda mais suave.  Estou convivendo melhor com minha sede, como se eu tivesse conquistado uma serenidade zen.
Não preciso de viver olhando pra um gelo.  Não preciso ter gelo à mão.  Não preciso de colocar um megacubo pra controlar minha sede.  A coisa simplesmente ficou mais fácil.  Conquista mesmo.

Baixei meu ganho interdialítico pra 1.800 a 2.000 e teve uma vez que eu cheguei com uns miseráveis 350 mililitros.  Quer dizer, umas gotinhas de nada...

Diz ZéAugusto, meu personal nephrologist, que o coração agradece.  Um dia ele acaba enlouquecendo, com esta variação tão grande de peso, três vezes por semana.  E enlouquece mesmo, tadinho.  Em apenas quatro horas de diferença, ele bombeia san-gue pra um corpitcho 4 a 5 kilos mais magro...

Ando adorando meu desempenho.  Mais que isto, adorando minha serenidade.


[1] Leia-se litros dando sopa pelo corpo afora...

[2] Legítima, diga-se de passagem.

[3] Aliás, coloca “sorveteria” no quadrinho de pesquisa dest’A Saga pra você ver...



Você começa a entender meu problema no 3:20.  
O clímax mesmo acontece por volta do 4:00.
Mas, se eu fosse você, via o vídeo todo e seguia a série.

13 comentários:

Anônimo disse...

Eu sei bem o que é isso.Basta não poder, que a vontade vem forte mesmo!me lembro do papai com o sal,era medido em balança.Ele pedia para deixar a comida toda sem sal, e adicionava, a porção do dia em um caldo, e ali ele ia controlando a quantidade.Acredito que com a agua, no calor que estava fazendo,deve ter sido barra.Parabens!!!beijos Patricia

PC disse...

Mas também, Patrícia, depois que acalma, eu nem lembro de sentir sede.
Acho que estou ficando menos ansioso.
Beijos

Unknown disse...

Oi César, e eu não sei? Você se esqueceu da melancia? Você comeu uma melancia aqui em casa. Mas valeu. Um grande beijo, Kenia

shikida disse...

um homem salvo pela própria teimosia ;-)

PC disse...

Devagarzinho, Kênia.
Pelas beiradas.

PC disse...

Tive um chefe que falou comigo, Leo:
- Gordinho, nós só vamos brigar se você errar duas vezes do mesmo jeito.
Heurística pura, meu fio

Anacris disse...

Na época que cuidamos de papai, o sal do dia era medido na tampa da caneta bic (dica do médico). Hoje tem sal em sachê na medida certa. Desde essa época me privo de adicionar sal ao prato, inclusive na salada. Normalmente a gente consome excessivamente o sal. Pobrezinhos dos nossos rins, precisam ser muito valentes mesmo.
PC, rir e fazer rir é o remédio. Para isto, seu talento é imenso, comprável ao seu enorme coração.
Obrigada!

PC disse...

Estou feliz que nem a represa de Cachoeira, AnaC.
Sem água nenhuma.

Cláudio Ferreira disse...

Fala aí Cesão.
Como tinha falado, tô lendo o Blog desde o começo, incluindo os comentários. Já estou em Abril/2011. Muito boa a história do vovô Cantídio com o Odilon Bherens. Tem mais ?

Grande abraço

Cláudio

Laura Martins disse...

Adoro compartilhar das suas experiências. Pão que a gente come junto. Beijos!

Cláudio Ferreira disse...

O gaiato do Barcellos ali em cima sou eu mesmo. Apelido da turma de GV. Coisas do google. Acho que agora acertei.

Cláudio Ferreira

PC disse...

Você resolve como você chama, Claudinho.
É muito difícil conversar com você assim...
O engraçado é que a bisneta do Odilon é a maior gracinha. Foi ela que falou com o Tomás que estava namorando com ele. Pode?

PC disse...

Falando nisto, estou com um pão sobre você no forno, Laurinha