segunda-feira, 30 de abril de 2012

Complexidade



Tudo bem que quando o assunto é Tomás, eu não sou exatamente um modelo de isenção.  Mas o menino anda sendo capaz de formular questões de uma complexidade de fazer Edgard Morin lhe conceder notório saber.  Brinca com a desordem, com a imprevisibilidade, de uma forma que deixa a lógica a seu serviço.


Ainda outro dia, usou em um raciocínio só a noção de tempo e de identidade com uma habilidade que me deixou maravilhado.
Tomás tinha chegado do Clic e, depois de tomar banho comigo, estava ali, refestelado na minha cama, vendo seus desenhos preferidos quando, entre um comercial e outro, virou-se pra mim e perguntou:
-  Vô, quando você era pai do meu pai e não era meu ainda, e não era velhinho igual hoje ...
E eu lá, de tão boquiaberto, nem lembro da pergunta feita por ele.


Tomás falava de uma identidade mutante, pela qual eu passava.  Já tinha havido um tempo em que eu ainda não era avô na vida.  Era só pai.  Do pai dele, é verdade.  Mas isto era pinto perto do estágio em que me encontrava hoje: o  de avô dele.


Tudo bem de novo.  O menino mudara minha vida.  Mas nem de longe eu imaginava que ele pudesse ter ciência disto.


A segunda coisa, quando ele admite que pode ter havido uma época em que eu não era velhinho igual eu sou hoje.
O tempora! O mores! [1] 
Ora, faça-me o favor, Tomás.  


Lembrei de uma vez, logo que a Lisa entrou na faculdade, quando ela chegou em casa falando que tinha um professor que me co-nhecia.
-  Ele é mais novo ou mais velho, Lisa?
Lisa fez um silêncio que me pareceu uma eternidade de tão preo-cupante e, me olhando nos olhos, inquiriu:
-  Da sua idade é o quê?


Filha ou neto, esses meninos estão sempre nos ensinando alguma coisa...


[1]  Este blog também é cultura!

2 comentários:

Cláudio Ferreira disse...

Cesão,
isto é complexo mesmo. Lembro uma vez que eu contava prá minhas filhas de quando eu brincava na rua Graça Aranha em GV e uma delas me perguntou, com a cara mais triste,se eu tinha sido menino de rua. A gente tá sempre se surpreendendo com esta tchurma.
Grande abraço.

PC disse...

Na imagem que eles tem da gente, a gente nunca foi igual a eles, Claudinho.