Cada vez que um médico me pede um exame, é um tandepá danado lá em casa. Gêisa fica me questionando, querendo saber, a todo custo, qual a hipótese diagnóstica. Eu, leso, não tenho a menor idéia do que seja isto. Ou pelo menos, nunca me ocorre perguntar ao médico o por quê do pedido dele.
Esses dias, ZéAugusto, meu personal nephrologist, me pediu um ecocardiograma doppler. Com um nome bonito desses, não deu outra. Lá voltei eu, perguntar ZéAugusto pra que, afinal, servia este exame e por que ele estava me pedindo um.
O que, verdade seja dita, foi ótimo para eu entender a paranóia do povo com o ganho interdialítico[1].
Diz ZéAugusto que a cada sessão de diálise, meu coração pira, não entendendo porque ele tem que bombear sangue pra um corpo que ficou, três vezes por semana, um tanto de quilos mais leve, de uma hora pra outra. Claro, eu estou falando com você numa linguagem vulgar[2], que gente comum entende. Por isto que a recomendação médica é para que o ganho interdialítico nunca ultrapasse a 3% do peso da pessoa. De outra forma, bacana, o coração incha e se descompensa todo.
É onde eu acho que o pessoal da saúde perde na relação com o paciente. O tempo todo, só me recriminavam quando eu ganhava muito peso. Ficam lá, dando puxão de orelha, como se a gente fosse menino. Depois de dois anos de hemodiálise, só agora eu entendi a história direito.
De qualquer forma, a notícia boa é que a palavra “normal” aparece 17 vezes no relatório do médico. Apesar do povo lá de casa não gostar muito quando eu falo assim, ZéAugusto avalizou minha declaração para a imprensa:
- Eu ando lindo, galera!
[1] Ganho interdialítico é o peso extra que eu ganho entre as sessões de diálise, normalmente por causa da ingestão em excesso de água que meu rim não elimina mais. Foi Alê Mello, de Guarulhos, que me ensinou.
[2] Sei que, de mim, você não esperava outra coisa. Vulgar aqui está usado no sentido latino da palavra, adj (lat vulgare) 1 Pertencente ou relativo ao vulgo. 2 Comum, freqüente, ordinário, trivial. Segundo o Michaellis...