quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Meus caseiros - 109


Metade da graça de um sítio é o caseiro.  Ele pode transformar o lugar num pedaço de paraíso ou fazer sua vida virar um inferno.
Nós já vivemos os dois, no Meu Sítio[1].
E, com os dois, é um aprendizado atrás do outro.
Dos ruins, eu esqueço logo.  É que a lembrança dos bons é tão legal que a gente nem lembra dos outros.

Seu Antônio Casemiro mora lá do lado.  Foi caseiro e, até hoje, dá apoio nos casos de pânico.  Seu Antônio é um sábio.  Nas horas vagas dele, ficava virando a terra.  Quando eu perguntava o que ele estava fazendo, ele respondia que estava procurando um diamante.  Diante da minha incredulidade, ele dizia:
-  Eu já procurei ali, ali e ali.  Nunca achei nada.  Ele tem que estar é aqui!
E continuava revirando a terra, como se procurasse um recibo em uma mesa bagunçada.

Ele era doido comigo.  Pra me agradar, plantou uma fila de melancia na horta[2].  Passado algum tempo, eu cobrei cadê as melancias.  Sem se avexar, seu Antônio falou, tranquilo:
-  Deu pepino!
Por alguma razão, que ele desconhecia, a terra havia teimado de me dar uma coisa no lugar da outra.  Nunca havia passado pela cabeça dele que ele trocara o pacote de sementes.  Ele simplesmente não entendia o que havia acontecido. 
Deu pepino, pronto e acabou.

A única coisa que me incomodava um pouco era que ele nunca podia ficar um minuto depois das 5 da tarde.
Por que, Seu Antônio?
-  É que depois daquela curva, todo dia aparece uma dona, fantasma, pra atentar a gente depois das 6.
E o senhor já viu ela?
-  Cê é bobo?  Eu não passo ali neste horário...

Um dia, arruma um tempo pra ir lá só pra conversar com Seu Antônio.  Guimarães Rosa adoraria...




  
[2] Seu Antônio ficava tão orgulhoso com a horta, que chamava ela de Ceasa.  Dizia ele pra Dona Gêisa, antes do almoço: 
-  Espera só um pouquinho que eu vou na Ceasa pegar uma salada pra senhora.
E voltava, todo prosa, com alface, rúcula, tomate, cenoura, ...

8 comentários:

Gil disse...

De caseiro entendo eu!!! O Josino, lá da fazenda, está comigo há 25 anos!!! Já é meu cumpadre (a filha dele é a minha afilhadinha) e mais do que tudo é meu amigo! De vagar para tudo, mas faz tudo. Tratorista, vaqueiro, carpinteiro, pedreiro, eletricista, bombeiro hiodráulico, cerqueiro, pintor, jardineiro, engenheiro sem diploma e já foi por duas vezes candidato a vereador de Luz !!! Ri por qualquer coisa - sempre de bem com a vida. Eu falo que ele tem o melhor emprego do mundo: mora no lugar que eu adoro, ganha para isso e ainda fica longe do patrão! Quer melhor?

PC disse...

Tio Beto, se a gente promover um encontro do Seu Antônio com o Josino, vamos prosear a noite toda!

Anônimo disse...

É só eu chegar junto e puxar prosa da mula sem cabeça e das outras assombrações!!!!!!Bom demais !!!!
Paulão

Renata Feldman disse...

PC e Gil,
Tenho que mostrar o post de vocês pra minha sogra, se não ela não acredita!...
Arruma um desses pra ela, coitada! Acho que os bons caseiros estão em extinção, não é possível!
Por lá só tem dado pepino e abacaxi, ninguém merece!
Abraços!

PC disse...

É isto mesmo.
Sem caseiro, perde metade da graça.
Fora que amanhã escrevo sobre o Seu Adílio, o outro...

PC disse...

Esqueci disto, Paulão.
E olha que hoje apareceu um saci lá no sítio. Depois conto, também...

Lucia disse...

Que delícia de Ceasa. Aqui tá em falta caseiro bom, apesar da maioria morar na fazenda do patrão e ficar por lá até bem velhinho. O problema é qdo esses caseiros se aposentam. O jeito é alugar para Usina ou vender.
Casos de assombração tem muito aqui não. Talvez porque falte um pouco do divino. Aqui tudo é muito terra e pouco céu!!!bjs.

PC disse...

Rijane uma vez chamou o cara de Serviços Gerais da empresa dela pra arrumar umas coisas em casa.
Pediu o cara em casamento, no final do serviço.
E que foto bonitinha é esta?
Tá fazendo patchwork?

Beijos