sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Tá na hora!!! - 20


Ano que vem é o 40º aniversário da morte do papai. Neste tempo todo, mamãe dedicou sua vida inteira a duas coisas: falar pra gente da saudade dele e conduzir com firmeza e doçura a vida de seus 7 filhos. Cinco meninos e duas meninas, diz ela. E mais Tomás até agora, digo eu.
Ela já passou por algumas ameaças de coração, um câncer de mama e continua com a cabeça ótima, apesar dos joelhos já darem mostra de cansaço nestes seus oitenta e uns anos.

Diz a lenda que eu sou o preferido dela. Ela jura que não faz diferença entre nós. Mas eu gosto bem da cara feliz que ela faz quando eu chego lá em casa. Acho que por isto, coisa mais esquisita que eu já vivi, fiquei com medo de falar com ela, quando estava pra sair da UTI. Mas muito medo mesmo. E isto depois de uma semana de imersão lá naquela cápsula, isolado do mundo.

Outra descompensada das boas que eu dei foi com Nando. Nando é o penúltimo dos sete irmãos. Mora em Resende, aposentado, e conseguiu uma folga das aulas de economia na faculdade pra vir dar apoio pra nós todos durante a operação, com a Ione, mulher dele. Deve ter sido resto de piração de anestesia mas você não acredita o medo que eu fiquei de não ver o Nando nunca mais. Não era claro pra mim se era medo de eu morrer. Ou ele...
O medo era de nunca mais eu ver aquele gigante de quase dois metros de puro bom humor e generosidade.
Engraçado que não tive isto com ninguém. Nem com Tomás.

Terminado o prazo da licença de uma semana, Nando teve que ir embora. E não tinha ido nem uma vez à UTI, pra deixar a oportunidade pra Gêisa e os meninos, já que as visitas eram limitadas. No domingo de manhã, antes de ir embora, ele achou que estava passando da hora de acabar com esta minha bobagem. Irrompeu UTI adentro, surdo às minhas tentativas de querer passar o resto da vida protegido por aquela casca.
Entendi porque que Jill Bolte Taylor, a tal neuroanatomista do livro que a Ju me deu, diz que medo aparece a partir de expectativas falsas que parecem reais.

Mas foi batata. Nando chegou, eu chorava e ele ria. Ficou lá até eu me acalmar. Dizem as meninas que ele é meu maior concorrente no posto de preferido. E que depois desta história, elas diziam que ele tinha virado MEU preferido também. Por via das dúvidas, como lá em casa a gente é muito ciumento, não posso contar esta história pra ninguém, ou meus irmãos caem de pau em cima de mim.

Mas agora você entende porque o começo desta história falava sobre mamãe. Muito espertinha, ela passou a usar a mesma estratégia. Ligava, tadinha, e eu fingia que estava dormindo, aproveitando que ninguém tinha coragem de me acordar.
Gêisa contou pra ela.
E ela, com a maior doçura do mundo, foi ligando, esperando a hora que eu tivesse coragem de atender.
Aí, acabou. Falei com Dona Ester e o medo adormeceu, embalado pela voz dela.
Igualzinho quando eu era menino.

Já estava mesmo na hora de eu encarar o mundo.

5 comentários:

vivi disse...

e eu a sobrinha preferida!hauhauhauhauhauh
saudades de vc!

Aujourd'hui je suis allé voir les lumières de la Tour Eiffel et je me rappelé de toi! (não sei se escrevi correto , mais tentei).

bises!!de sa nièce préférée

PC disse...

Ta nièce. Ta.
Tá?
Trem bonita, aquela torre...
E você acredita que, depois da Exposição Universal de 1889, tinha gente que queria jogar ela no chão?
Este povo, sim, é que é esquisito.
Nós, somos bacana demais...
Beijos

vivi disse...

ouiii....ta nièce...

Xande disse...

Esta fez seu médico chorar ....

PC disse...

Vai ver no dia da medalha