sábado, 19 de dezembro de 2009

A falta que ele me faz - 26



Eu entrei no hospital orgulhoso de ter chegado aos 122 kilos, harmonicamente distribuidos nos meus 1,83.

Mesmo que você, com este seu corpitcho esquelético não concorde, era esta a minha modesta opinião.[1] Eu tinha largado pra trás 22 kilos depois que tinha tomado a decisão de fazer o último regime de minha vida, no dia 15 de abril.

Depois de uns dez dias de hospital, o povo da nutrição apareceu com uma balança no meu quarto. Daquelas eletrônicas, mudernas, sem a menor chance de dizer que não merecia credibilidade.

Perdi a voz quando o ponteiro bateu em 137. Claro, estava errada. Pedi pra trazerem a minha, de casa.[2] Deu a mesma coisa. Cento e trinta e sete, cravados.

Foi assim que eu percebi que o câncer queria cobrar caro pelo sucesso do trabalho do Xande. Apesar de eu ter feito hemodiálise três dias na UTI, tinha sido pinto, comparado com o que era necessário eliminar de líquidos do meu organismo.

A partir de agora, meu desafio era regular o que eu viesse a beber e deixar a EmoMáquina lavar meu sangue, no lugar do rim que eu perdi.

Foi aí que Valente começou a tomar forma. Agora eu só podia contar com ele pra facilitar a vida da EmoMáquina. A partir do momento que foi necessário tirar o rim esquerdo, Valente percebeu que, mesmo sem vascularização, ele tinha um gigantesco trabalho pela frente.

Lembrei de uma história com Toledo, o consultor que guiou o projeto de modernização da Cedro. Toledo dizia que se tivesse um pouco mais de dinheiro ia fazer a grande virada. Aliás, se tivesse um pouco mais de tempo, ia deixar o nome da gente na história da indústria têxtil. Ou ainda, se tivesse uma equipe um pouquinho melhor que nós, ia fazer a concorrência tremer...
E arrematava logo, continuando o raciocínio: - O dinheiro que nós temos é este, o tempo que nós temos é este, a equipe que nós temos é esta. E vai ser com isto que nós vamos ganhar este jogo. [3]

Foi então que eu ouvi Valente falando comigo, disposto a não deixar barato esta história: - Vai ser com o que nós temos que nós vamos ganhar deste tumor.

Todo animado, peguei minha espada e me perfilei ao lado dele, disposto a enfrentar esta batalha de não deixar o câncer evoluir.



[1] Outro dia encontrei com Bruna, um avião que trabalha com ZéLuiz. Sabe o que ela falou quando me viu? - Schpetáculo!!!

[2] Gordo sempre acha que o problema é a balança.

[3] Fico todo orgulhoso hoje, quando vejo a Cedro estar entre as melhores do setor no país. Dá a sensação gostosa de ter tido dedo meu, ali.

4 comentários:

vivi disse...

acho que a minha balança ta com problemas!!!

valente é o mais novo integrante da familia!!!e é muito bem vindo!!!

bjooo

saudades de vocÊ

PC disse...

É sempre assim, não é Vivi?
Lá em casa então, as balanças sempre estão com defeito...

Saudades também.

Dênio Mágno disse...

Cara, seu blog é campeão. Tou adorando o seu jeito de escrever e assim continuar sendo. Resolvi criar um blog aqui no blogger... ai vi que já tinha um, com apenas um post. Incompetente que sou (hahaha!!!). Estou te seguindo, em todos os sentidos com todos os sentidos, inclusive o do coração! bj

PC disse...

Dênio,
a gente se segue há mais ou menos 30 anos.
E adoro sua companhia.
Beijos,

PC