Luciano
Cordoval esteve lá no Meu Sítio, final de novembro. Ele é o cara que desenvolveu, implanta, anima
e prepara multiplicadores para as Barraginhas, uma das tecnologias sociais mais
importantes que eu conheço. Quando falei disto a primeira vez,
ele já tava na bica de 500.000 barraginhas pelo Brasil afora. Com a idéia[2]
de espalhar multiplicadores pelo Brasil, Luciano virou plantador de água. Já deve ter passado de um milhão de
barraginhas, trazendo vida para um punhado de gente que perdia sua esperança
pra seca, a cada vez que a chuva não vinha.
Chegou com
sua Ana, pra fazer um improvável lago lonado no topo mais alto da parte de cerrado.
A
coisa é de uma simplicidade absurda. Coisa
de gênio mesmo. Enquanto a função das
barraginhas é jogar a água da chuva pro lençol freático, a proposta do lago (que
ele gosta de chamar de múltiplo uso) é deixar a água disponível pro que a gente
quiser: irrigar as plantações de eucalipto
do Diogo, deixar água pras vacas (as duas), pro Tomás pescar uns lambarizinhos[3].
Uma festa.
O macete tá na inclinação da rampa (não mais que 30º),
pra evitar que a terra escorra na rampa. Aí cobre o fundo com lona de 200
microns, de 8 metros de largura (se precisar de emenda, usa cola de sapateiro).
Cobre a lona com uma camada de terra e aí
a chuva enche e a gente mantem, bombeando água do riacho.
Outro dia, sem ele saber, ganhou de uns amigos do Rio um
filme sobre a experiência. Me mandou, feliz
igual menino diante de um prato de brigadeiro.
[1] Desenho pirateado na tora do Mário Vale, de quem, aliás, pirateei também minha cara de Papai Noel.
Com o conhecimento dele, diga-se de passagem
[2] Deve
ser praga do Fernando Pessoa que dizia em alto e bom som, “Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem
escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em
orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa propria, a
syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ipsilon, como
escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse”,
in Livro do desassossego, já citado aqui umas duas vezes. Eu sempre ria da vovó escrevendo directa e agora não consigo deixar de
acentuar ideia. Ainda bem que o Novo Acordo Ortográfico ainda
não entrou em vigor.
[3] Luciano
acha que dá pra criar tilápia, se a gente quiser correr o risco de passar raiva
com o povo indo lá pescar. Se rolar, tá
bem servido...
Para saber mais: http://barraginhas.multiply.com/
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