quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

One size fits all - 30


Quando eu fui pro hospital, foi uma briga interminável com a Gêisa. Eu queria levar todas as minhas camisetas velhas e relaxadas, e Gêisa queria fazer um guarda-roupa de pijamas de deixar Armani com inveja.

É que talvez você não saiba, mas eu crio uma relação de amizade com minhas roupas. Na hora de preparar minha mala para viagens, por exemplo, privilegio sempre as roupas que não conhecem a cidade pra onde eu vou. Calças que já foram ao Recife são preteridas, para dar oportunidade pra outras. Idem para os sapatos e assim por diante.

O critério não foi suficiente pra sensibilizar Gêisa. A briga interminável acabou, como de hábito, com ela comprando dois pijaminhas chiquérrimos, bermudinha e top de manga curta , combinandinhos, para eu desfilar pelo hospital.

Ocorre que, como você pôde ler no “A falta que ele me faz”, minha silhueta (digamos assim) arredondou-se novamente no curto período de UTI. Eu tinha engordado feito um porco.

Acrescente-se a isto o fato de eu ainda não ter feito cocô ainda e andava tomando óleo mineral, pra ajudar os (digamos assim, também) movimentos peristálticos, se é que você me entende...
Por via das dúvidas, era melhor usar fralda geriátrica na minha primeira saída.

Pra piorar minha situação, os pijaminhas[1] foram comprados na minha fase pré-operação, quando eu estava magrinho[2]. Quando, 6 da manhã, eu fui me vestir pra ir pra hemodiálise, o modelito tinha se transformado em um sensual BabyLook. Era botão que não fechava, era pneuzinho pulando pra fora, era bermuda coladinha no fraldão parecendo de lycra...

Um horror!

Mas, sem alternativa, lá fui eu para a hemodiálise com aqueles trajes aviltantes, deixando pra trás Gêisa e as técnicas de enfermagem, morrendo de rir dos meus esforços pra entrar na roupa.

Naquele dia, Diogo ganhou dois pijamas. Um semi-novo e o outro, zero bala. Arlindo Motoboy, um pé cá e outro lá, correu lá em casa pra pegar uma sacolinha com minhas bermudas velhas e largas, e minhas camisetas desbeiçadas mas aconchegantes.

Jurei pra mim mesmo que nunca mais eu deixaria de honrar este porte elegante do Valente, passando por um vexame destes!







[1] Desculpe minha antipatia. Nas etiquetas vinha marcado esse “One Size Fits All”, que quer dizer “tamanho único”. Mas eu não podia perder a chance de me exibir pra você...

[2] Eu sei que nunca na minha vida pude usar magrinho me referindo a mim mesmo. Mas depois de Einstein, bacana, magrinho cabe aqui sim!

4 comentários:

Adriana disse...

Levou as camisas floridas também?

PC disse...

Guardei pra recepção, quando eu saísse, Adriana.
Lá, eu queria só aqueles mulambinhos aconchegantes.

Emilia Osorio disse...

Ah e a camisola estampada????

PC disse...

Nada, Emília.
Fiquei igual o Lucas. Só queria fralda larga e leite morno.

Beijos