segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

1.650 mililitros - 35

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Diogo e Marcelo, meu nefrologista, estavam conversando na beira da minha cama. Eu estava ainda meio grogue, acabando de acordar.
Escutei, meio confuso, um deles falando[1]:
- Com este rinzinho vagabundo dele, deve fazer no máximo 100 a 200 ml de xixi por dia. E mesmo assim, deve ser um xixi clarinho, quase que pura água.

Eles estavam se referindo ao fato de meu rim direito não apresentar vestígios de vascularização[2] e, tudo levava a crer, que dificilmente cumpriria o papel de filtrar meu sangue com alguma eficácia.

Marcelo dava a impressão de ser magrelinho. Mas o caboclo era lutador faixa ultra mega preta escura de muay-thai[3]. Um cavalo.
Eu nem liguei. Meio de costas ainda, levantei o braço direito e soquei meu indicador no nariz do Marcelo[4], dizendo:
- Outra vez que você falar assim do Valente, eu vou te moer de porrada!

Os dois morreram de rir, do meu atrevimento. Naquele estado, eu nunca ganharia uma briga nem com Tomás...
Mas pra mim era claro que Valente não estava disposto a deixar aquela história barato. Ele ia mobilizar todos os esforços à disposição de nós dois pra suprir a falta que nosso outro rim fazia.

E não deu outra. Devagarzinho, Valente começou a mostrar serviço. Ao mesmo tempo que a hemodiálise ia me ajudando a jogar fora o líquido em excesso que eu acumulara na UTI, Valente ia produzindo um xixi amarelinho, fedorento, daqueles de deixar qualquer nefrologista orgulhoso. E, no meu caso, agradavelmente surpreso pelo inesperado da situação.

Por sugestão do João Gabriel[5], comecei a colher meu xixi pra poder ter uma idéia mais concreta do volume produzido. O resultado surpreendeu todo mundo. Na primeira medição, foram 1.650 mililitros.

Muito, mas muito acima do esperado...
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[1] Depois da briga, quando eu tocava no assunto, Marcelo jurava que tinha sido o Diogo quem falou. Diogo, de pés junto, jura que foi o Marcelo.

[2] Pra quem está chegando agora, recomendo a leitura da história 02, “Prazer em conhecer”.

[3] Nem sei como escreve isto. Mas é marcial com força, esta luta. Segundo a Wikipédia, escreve-se มวยไทย em tailandês. Mas acho que ajudou pouco, esta informação...

[4] Claro que, na dúvida, preferia brigar com Marcelo. Vê se eu iria admitir que a crítica teria vindo de meu filho querido? Vê se eu ia?

[5] Corre lá na história 16, “Festa no apê” se você está perguntando quem é este João Gabriel.
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* Esta ilustração me chegou pela Jo Yudess, mãe do Diogo, de Bufallo, New York. BTW, o Cris, da Ciça, me deu de Natal um álbum com histórias do Príncipe Valente, do cinquentenário do lançamento, em 1974. Já consegui uma coleção de 16 álbuns desta edição comemorativa.
Aí Rui, se quiser folhear, aparece aqui em casa.

6 comentários:

Adriana disse...

E viva o xixi amarelo e fedorento!!!

PC disse...

Você não faz idéia, Adriana, do orgulho meu e do Valente quando olhamos pra ele...

Lucia disse...

Grande Valente!! Grande PC!! Não sei se foi a sua indicação, o fato é que o livro Amor, Medicina e Milagres está esgotado na Siciliano de Uberlândia e tem lista de espera!!
Beijos.

PC disse...

O livro é bacana mesmo.
Não acho que o Valente tenha tantos leitores assim em Uberlândia. Avisa, se não conseguir, e eu peço aqui pra você.
Em tempo: A Jill Bolte-Taylor vai ser entrevistada na GloboNews estes dias. Acompanha lá, que ela vale ouro...

Lucia disse...

Assisti ontem a entrevista dela na GloboNews..muito doido!! Não entendi direito, pq cochilei muito (foda, antes dos 50, dava conta de 24 horas de televisão sem nem piscar). O que ficou foi de que o lado direito do cérebro proporciona o nirvana. Pronto..Hoje, tomando meu café da manhã, tentei mexer os neurônios do lado direito..achei bacana, até perceber que eu tava focando no lado errado, ou seja, no esquerdo. Foda, sempre confundi o direito com o esquerdo, donde concluo que talvez eu viva mais em nirvana. Será??? Veja depois o blog da Julia. Tá me seguindo pq agora esqueci o nome!! Adorei a foto da piscina e o escorregador do Tomás! Tb vou dar um prá meu netinho/a, um dia!!!! beijos beijos beijos

PC disse...

Pra você não esquecer nunca mais, Lúcia: o esquerdo é o de cá e o direito é o de lá.
Não fica mais fácil assim?

Beijos