Tive dois presentes inesquecíveis na minha vida. Um, quando no meu batismo, ganhei uma bezerra
de presente do TiZéCantídio, a quem papai tinha escolhido pra ser meu padrinho.
Nunca vi, a tal bezerra.
Mas papai se desculpou comigo a vida toda, porque a bezerra tinha
servido de lastro pra um furo de orçamento aqui de casa. Papai jurava que ia, uma dia, me pagar os
3.500 seiláoquê[1]
que ele tinha lançado mão da minha caderneta de poupança do Lavourinha.
Minha vida toda, sempre que eu fechava o mês raspando, pensava
no quanto esta bezerra do TiZé deve ter sido providencial e o tanto que deve
ter sido difícil lançar mão da minha caderneta de poupança, mesmo se
prometendo, um dia, acertar esta conta[2].
Isto deve ter sido entre 1955 e 60.
O outro presente, de aniversário, eu devia ter uns 14 pra 16
anos, ganhei no Estadual, de duas irmãs minhas, Lygia e Thereza. Foram elas que me aplicaram n’O apanhador no
campo de centeio, aliás.
Era um cachorro, formado por duas batatas, uma grandona (o
corpo) e uma pequena (a cabeça).
O corpo e a cabeça do cachorro eram estruturados com palitos
de fósforo, que davam pro pequeno animal uma leveza e uma fragilidade sem
igual. E que exigiriam de mim um cuidado
com o qual eu não estava acostumado.
Demorei um breve tempo pra gostar do cachorro. Aliás, gastei um tempinho pra me dar conta. De início, olhei pra ele, meio sem entender,
que presente era aquele que, do nada, tinha me sido apresentado. Como assim, uma batata? Acho que foi Lygia quem esclareceu minha dúvida:
- Não é batata... E um cachorro! falou ela, definitiva.
E aquele presente nunca mais saiu da minha cabeça. Foi como se Lygia e Thereza tivessem me
ensinado a atribuir valor para as coisas, a ter liberdade pra deixar a imaginação
fluir.
Muito tempo depois, Rijane,a madrinha do Bazar do Desapego, me ensinava que presente bom mesmo é quando
ele ganha significado. Fora isto, ele só
passa a fazer parte das bobagens que se vai juntando na vida.
Ontem, repetindo a tradição, ganhei um punhado de brinquedos
de aniversário. Se você quiser me dar
uns, ainda dá tempo. Depois, eu e Tomás
vamos levar pros meninos que não ganham brinquedos.
Fala se tem alguma coisa melhor do que isto?
8 comentários:
De vez em quando isso acontece: em vez de palavras, lágrimas. Como se já não bastasse a emoção que me invade... Acho que a ideia do presente foi minha. Queria te dar um boizinho no seu aniversário. Armei as batatas e os palitos. Lygia fez os retoques. O boizinho precisava ser bem humorado. Achou que você podia não gostar daquela singeleza e disse que o boizinho ficou parecido com um cachorro. Você ia entender a nobreza de um boizinho cachorro? Rimos da ideia. Era o amor. Me lembro direitinho do seu olhar de surpresa quando viu o presente. Chovia fino naquela tarde no Estadual, antes que a Lygia nos deixasse com o coração na mãos, sem que pudéssemos pedir perdão por qualquer coisa, sem que pudéssemos nos abraçar na despedida...
Como assim, um boizinho...?
Não esqueço daquele presente nunca mais...
Nem de voce e nem da Lygia.
Este negócio de dar bezerro de presente acho que era tradição na familia. Vovô Cantídio me deu um bezerro ou bezerra quando nasci e Vovô Zé completou o casal quando fui batizado. Ele e vovó Alayde tanbém foram meus padrinhos.
Só sei que estes bezerros renderam bem até eu me formar e de vez em quando ainda davam uns dividendos.
Grande abraço e parabéns.
Meus dividendos eu tirei independente do desejo do acionista majoritário, Claudinho. A senha era: segura essa, mamãe.
Nunca falhou...
E cadê a atualização do blog?
nada sobre Movember?
Cadê você Paulinho? Para de nos torturar com a sua ausência.
Espero que esteja bem.
Bj
Que abandono é esse, véi? Este blog tá uma avacalhação. Nada a confidenciar aos leitores?
Bjs saudosos. E que 2013 entre com força...
Cheio. Amanhã você fica sabendo...
ps: e olha que a palavra que eles pedem aqui pra confirmação de identidade é "essesrato"
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