sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Filosofando - 203



O dia tinha sido um destes dias normais.  Tomás correu atrás das galinhas, deu comida pros porcos, fiscalizou a horta, nadou, andou na Faísca, subiu no pé de amora, brincou com os filhotes da Nera, foi dar comida pros carnerinhos, pegou areia no córrego, comeu goiaba com bicho e tudo, pintou o chão com giz de cera[1], brigou porque não queria tomar banho ...
Enfim, a mesma rotina de sempre.

O sol se pondo, colocou sua mesinha na varanda e ficou, por um breve momento, introspectivo, só olhando e pensando.  A avó, de longe, estranhava o momento incomum mas acompanhava de longe. 
Com a maior calma do mundo, Tomás se vira pra ela e pergunta: 
-  Por que a gente tem que voltar?
Pega de surpresa, a avó amealhou os argumentos que lhe ocorreram pro momento:  vovó trabalha, tia Ciça tem que namorar com o tio Cris, vovô faz hemodiálise, blá blá blá.
Impassível, curtindo o momento certo de que a vida tinha muito pouco a mais a lhe oferecer, Tomás concluiu:
-  Eu queria morar aqui até morrer!

Agora me veio com outra pérola.  Ela havia quase derretido no sábado, nadando comigo e com o Frank.  No domingo, estamos nós três de novo na piscina quando Tomás reclama:
-  Eu nunca tinha visto você nadando comigo, Tio Frank.
Frank respondeu, meio atônito:
-  Quêisso, meu? A gente nadou ontem o dia inteiro!
E o menino, sem perder a ginga:
-  É mesmo.  Eu me esqueci.  Mas a vida é assim...  A gente esquece mesmo das coisas...

Vou acabar descobrindo um dia que Sócrates, o filósofo, reencarnou ali...




[1]  Cecília  Regueira, seu giz faz o maior sucesso até hoje!




2 comentários:

Flavia Coelho disse...

Ai ai ai se eu te pego Tomás..... ficava pra mim....
Bjs

PC disse...

Assim ele me mata, Flávia Coelho...