O dia tinha sido um destes dias normais. Tomás correu atrás das galinhas, deu comida pros porcos, fiscalizou a horta, nadou, andou na Faísca, subiu no pé de amora, brincou com os filhotes da Nera, foi dar comida pros carnerinhos, pegou areia no córrego, comeu goiaba com bicho e tudo, pintou o chão com giz de cera[1], brigou porque não queria tomar banho ...
Enfim, a mesma rotina de sempre.
O sol se pondo, colocou sua mesinha na varanda e ficou, por um breve momento, introspectivo, só olhando e pensando. A avó, de longe, estranhava o momento incomum mas acompanhava de longe.
Com a maior calma do mundo, Tomás se vira pra ela e pergunta:
- Por que a gente tem que voltar?
Pega de surpresa, a avó amealhou os argumentos que lhe ocorreram pro momento: vovó trabalha, tia Ciça tem que namorar com o tio Cris, vovô faz hemodiálise, blá blá blá.
Impassível, curtindo o momento certo de que a vida tinha muito pouco a mais a lhe oferecer, Tomás concluiu:
- Eu queria morar aqui até morrer!
Agora me veio com outra pérola. Ela havia quase derretido no sábado, nadando comigo e com o Frank. No domingo, estamos nós três de novo na piscina quando Tomás reclama:
- Eu nunca tinha visto você nadando comigo, Tio Frank.
Frank respondeu, meio atônito:
- Quêisso, meu? A gente nadou ontem o dia inteiro!
E o menino, sem perder a ginga:
- É mesmo. Eu me esqueci. Mas a vida é assim... A gente esquece mesmo das coisas...
Vou acabar descobrindo um dia que Sócrates, o filósofo, reencarnou ali...
2 comentários:
Ai ai ai se eu te pego Tomás..... ficava pra mim....
Bjs
Assim ele me mata, Flávia Coelho...
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