Deve ter algum dos tomos das Obras Completas do Freud falando nisto. Ou talvez uns dois ou três seminários de Lacan falando do jeito complicado do mestre. Eu, mais limitado, prefiro a definição que Marcelo Xavier me deu. Diz ele que à medida que ele foi perdendo a mobilidade é que foi vendo como as ladeiras de Belo Horizonte iam ficando cada vez mais intransponíveis.
Não estou falando dos despenhadeiros do Santo Antônio. Estou falando é daqueles aclives que um dia eu já achei suaves e que hoje, com a baixa da hemoglobina, subir eles pra mim é um desafio pra escalador nenhum colocar defeito.
Você, eu não sei. Mas eu só me dou conta das coisas depois que elas me faltam.
Acho que é até por causa disto que eu ando cada vez mais incomodado quando vejo que as vagas para deficientes físicos andam cada vez mais ocupadas por deficientes mentais.
Paulinho Saturnino, quando era diretor da FAFICH, foi contestado por uma senhora dizendo que era privilégio.
Debochado, ele, no outro dia, colocou um cartaz na vaga:
- Troco vaga privilegieada por duas pernas em bom estado.
Eu, outro dia, fui na PUC Minas fazer uma palestra com Laurinha Martins, da Cadeira Voadora . Liguei antes, pra garantir que teria vaga pra ela no estacionamento.
Acertei tudo. Ou melhor, pensei que ...
Chegando lá, mesmo a PUC Minas tendo sido a primeira universi-dade a abraçar o projeto da inclusão [1], todas (eu quis dizer TODAS) as vagas de uma fila reservada para deficientes físicos estavam ocupadas. E era vaga com a figurinha do cadeirante pin-tada em azul, o espaço para poder tirar a cadeira do carro e a pessoa se instalar pintado em amarelo rajado, ... Tudo lá. Não dava pra falar que não havia visto.
Tinham visto sim. Os professores da PUC Minas estavam era cagando solenemente para a questão.
Foi um ótimo motivo pra inaugurar a idéia. Eu tinha mandado fazer o sinal que ilustra este post em adesivo numa gráfica rápida. Preguei nos carros todos.
De vez em quando, prego em supermercados ou shoppings. Em lugares onde o pessoal não se deu conta ainda que a questão é de respeito com quem precisa. Só pra eu e você nos darmos conta que este avanço é muito importante pra quem merece.
Da próxima vez que você pensar em usar esta vaga sem necessidade, olha pra vaga disponível mais perto do local onde você se encontrar e pensa na pessoa que precisa tendo que romper por todo caminho, seja lá qual for a necessidade especial dela.
Eu penso sempre na mamãe, com os joelhinhos fragilizados dela, fazendo o trajeto.
Ai de você, se eu estiver com ela, e seu carro, mesmo que só por um pouquinho, estiver ocupando a vaga de deficiente ou de idoso...
[1] Quando Bonifácio Teixeira, à época Pró-Reitor de Extensão, lançou o projeto Sociedade Inclusiva pouca gente entendeu do que se tratava...
A dica foi da Laurinha Martins
23 comentários:
Valeu, Paulinho! Nós cadeirantes agradecemos! Beijos
Nós também, Laurinha.
Na Bienal do Livro eu quase boto meus bofes pra fora, na Expominas, quando não tem NADA sobrando...
Ali no Carrefour da praça Alasca eu vejo direto.... uma vez, quando o Bruno tava com us 8 anos, eu comentei:"Nossa, os deficientes físicos tão cheios da grana, olha, mercedes, cherokee, pajero..." aí ele olhou pra mim e disse..."fala sério, pai... isso são as donas fazendo compras..." aí eu "e elas não são deficientes?" e ele..."bom, ma melhor das hipóteses são cegas!"
é dureza que, numa situação dessas, tenha-se que valer, literalmente, da máxima: não entendeu, não?! quer que desenhe?! cada dia me convenço mais de que são mesmo deficientes mentais e não físicos...
8 anos e já deixando claro o pedigree...
Esse menino vai longe, Xande!
Vai ser o máximo, se eles pedirem pra desenhar, Zita...
Campanha apoiadíssima!!!
De vez em quando eu saio pregando os adesivos, Adríola.
Nessas horas, eu sempre penso na vovó também...
Valorizei, Adriana.
Meus joelhos agradecem Cesão. Apoiado. Gostaria de ter uns adesivos deste prá te copiar. Beijo.
Fiz a matriz e coloquei no facebook, Márcia.
É pegar e levar numa gráfica rápida.
Beijo
Paulo,
tínhamos também que começar uma campanha para a bhtrans liberar a permissão de deficiente físico para vagas especiais para quem faz hemodialise. A Doretrans associação dos pacientes deu entrada com o pedido na bhtrans, mas eles estão enrrolando a mais de 1 ano e não liberam. Tem varias capitais que o paciente renal tem a credencial e pode usar as vagas de deficiente. BH não pode . E pela governo federal na época do Fernando Henrique ele promulgou uma lei que coloca o insuficiente renal como deficiente físico. Ou seja, falta é boa vontade da Bhtrans.
um Abraço
Eduardo
Eu já tinha má vontade com a BHTrans, Eduardo.
Agora então...
Paulo,
será que não dá pra gente fazer algo mais?
um Abraço
Eduardo
Você tem meu apoio pra qualquer ação a mais que te ocorrer, Eduardo.
Não seria hora de escrever p/ o EM no caderno cartas a redação colocando todos esses entravos ? Poderíamos começar uma campanha aberta. Eu já fiz uso do jornal p/ falar de algumas coisas que me encomodavam e eles publicam mesmo. Bjs
Flavia e Paulo,
acho uma excelente ideia escrever para o EM, como vamos proceder?...
Escrever pro Estado de Minas, tá liberado. Dou a maior força.
Tentem e me falem do resultado.
Beijos
Paulinho querido,
Fui lendo e me emocionando com a sua braveza e iniciativa cheia de razão e arrojo.
Parabéns por ser esse cidadão tão especial do mundo que você é!
Separa uns adesivos pra mim, tô dentro dessa campanha!
Abração!
Que cidadão que nada, Renata.
É um prazer danado, ficar escondido vendo a cara de surpresa. A reação é como se eles estivessem levando multa. Pura educação...
Da próxima vez, filma. Isso tá melhor do que pegadinha.
Beijos!
Maior sacanagem que esse ovo faz com os cadeiranes, Re.
Adorei a ideia...
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