O outro é o Seu Adílio. Tomás adora ele. Os dois se chamam por Nego Duro.
Seu Adílio é mais mineiro, mais dissimulado que seu Antônio. Nunca diz, na lata, o que quer. A gente tem que tentar decifrar o que está por trás das falas dele.
Outro dia, a Clotilde, a javaporca do Meu Sítio, pariu. Ele liga pra Gêisa e fala:
- A senhora não vai nem acreditar...
Gêisa, que estava esperando a notícia do parto, insistiu, perguntando quantos porquinhos haviam nascido.
E seu Adílio, inabalável:
- A senhora não vai nem acreditar...
O rumo da prosa manteve-se inalterado, até a hora em que a gente estacionava o carro no Meu Sítio. Seu Adílio lá, em pé ao lado da pocilga, repetindo orgulhoso enquanto Gêisa contava os nove bacurinhos que haviam nascido:
- A senhora não vai nem acreditar...
Seu Adílio é um relógio. Como ele mora em Cachoeira da Prata, chega todo dia às oito horas e sai às quatro e no domingo sai ao meio dia. Só que, pra nós da cidade, quatro horas é a hora em que sai o almoço. Bicão, seu Adílio sempre agradece quando Gêisa chama ele pra tomar o café da manhã conosco. Hesita um pouco e emenda, logo em seguida, sua ladainha preferida:
- Então me dá só uma provinha...
O auge dele foi uma vez que nós matamos uns três porcos e Gêisa passou o final de semana na maior animação, preparando carne de panela pra nós. Foi dando a hora de ir embora e seu Adílio rondando por ali, inventando desculpa pra atrasar o caminho de casa.
- Cheirando bão! escuto ele falando. Não entendi direito o comentário e ele repete:
- Cheirando bão!
Era a senha dele, dizendo que gostaria de provar a suã que cozinhava no fogão de lenha.
Seu Adílio é meu mestre de delicadeza. Sempre fala o que quer. Mas sempre do seu jeito cuidadoso, pra não ultrapassar o limite. E, claro, pra nunca ter um não como resposta. Acabei incorporando isto na minha vida.
- Cheirando bão!, digo eu toda vez que quero invadir a cozinha pra pegar uma prova do que Gêisa prepara o almoço.
2 comentários:
Seu Adílio que me aguarde. É só vc falar que vou dar uma mãozinha prá Dona Gêisa. Agora uma suã é covardia...e o tanto que é bão.
Cheirando bão, Ives.
Vou marcar com Dona Gêisa e te falo.
Beijos
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