terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Trovoada - 200


O tempo fechou de vez no Meu Sítio.  Mas desta vez não tinha nada a ver com metereologia, como pode parecer com o tanto que choveu por lá neste começo de ano. 
Foi Ciça, minha filha ecocomprometida que anda comprando uma briga que, mesmo sendo da maior relevância, tem nos assustado a todos.
       
É que, toda vez, na hora de vir embora, a gente recolhe o lixo, adrede[1] separado, e traz pra encaminhar para a coleta seletiva em BH.  A primeira grande vitória da Ciça foi quando convenceu todo mundo que enterrar e queimar lixo era um destino inadequado para os resíduos sólidos.  O que ela quer, a partir de agora, é encorajar todo mundo que vai ao Meu Sítio nos visitar a trazer de volta o lixo que produziu.  Falar mesmo, na tora, com as pessoas: 
Por favor, leva estas latinhas de volta com você!
                  
Como toda mudança, a idéia, à primeira vista, nos pareceu biodesagradável demais.  Devagarzinho, ando cada vez mais convencido que ela tem razão.  Vai ver, a gente, por comodidade, começa a pensar um pouco mais sobre o lixo que produz (des)necessariamente.
             
Pra mim, o segredo da alteração do comportamento estará sempre ligado à forma que a gente conseguir fazer o povo refletir no assunto.  No momento, ainda está meio confrontativa demais pro meu gosto.  Como boa ativista, Ciça acha que nós ainda estamos demorando demais a nos dar conta do estrago que estamos provocando.
                    
Como que pra resolver o impasse, como se eles dois tivessem combinado, recebi do Ucho Ribeiro um videozinho que, de uma forma aparentemente mais doce, é muito mais contundente que a irritação da Ciça.  Dá uma olhada, pensa no assunto e, quando for no Meu Sítio, lembra de tomar a iniciativa de recolher seu lixo de volta.





[1] Fui olhar na Caixa de Pesquisa que o Google deixa eu usar nest’A Saga.  Pelo menos isto o blog resolveu na minha vida.  Usar a palavra era meu sonho.  Esta já é a quinta vez que ela aparece aqui. 
#satisfeito

domingo, 29 de janeiro de 2012

Esquizofrenia corporativa


Há um tempo atrás eu levantei a bola da Unimed aqui nest’A Saga com uma inventação de moda deles pra marcação de consulta pela internet.  Era um troço de uma praticidade impar, que, efetivamente, era o maior adianto para o lado da gente, clientes.  A própria Unimed anda jactando-se de seu avanço, alardeando o sucesso de seu projeto.  A coluna Briefing do Estado de Minas comenta o trabalho da Lápis Raro, que gerou mais de 100 mil consultas em apenas um ano.  "Sabe por que tanta gente já marcou? Porque resolve", provoca a campanha.
             
Fecha o pano, rápido.  2º ato.
            
Muito bem.  Estava eu querendo conhecer o apartamento novo da Lisa no Rio.  Primeira providência de paciente renal dishcolado, fui armar a hemo pra ser feita no Rio.  O procedimento normal demorou um pouco mais pra ser concluído e lá fui eu conversar com a Unimed pra agilizar o processo.
Diz a moça que eu devia entrar em contato primeiro, pessoalmente, com o Trânsito da Unimed no Rio.
Liguei pra lá e escutei:  O senhor tem que preencher um documento.
Nenhum problema.  Eu faço chegar a vocês, falei com a menina, pensando em terceirizar a dor de cabeça pra Lisa.
Pessoalmente, insistiu ela.  O senhor vem cá, preenche a ficha, a gente manda pra auditoria e eles respondem.
Achei bacana, entendendo que seria vapt-vupt.  Mas, completou a moça, rápida no gatilho, não é garantido que a auditoria autorize.
Então, perguntei eu, sem entender direito, eu tenho que ir até à Unimed, pessoalmente, e, correndo o risco de não ter minha hemo autorizada, voltar correndo pra fazer em Belo Horizonte?
Tadinha, a moça ficou até meio perplexa com minha irritação. 
O senhor não entendeu? ela falou, telemarketinguemente gentil.
Claro que entendi.  Desculpe, eu só fiquei irritado por ter que me submeter à burocracia burra, criada só pra dificultar o acesso. 
            
É possível até que meus amigos da Unimed BH possam dizer que eles não têm gestão sobre outras Unimeds.  Mas continua sem fazer sentido pra mim.  Se usam mesmo nome, mesma marca, era pra estarem alinhados com a mesma filosofia de se adequar à necessidade do cliente.
Mas não.  Cagam e andam se a coisa vai me dar um gigantesco trabalho.  Parece que o maior compromisso é dificultar meu acesso à felicidade.
                
Fala se eles não estão de sacanagem comigo[1] com este slogan que a Unimed usa: 
“Se a vida não para de oferecer, não pare de aproveitar”

 

[1] No mínimo uma provocação.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Minha caixa de lápis de cor

Rijane escancara um sorriso quando costuma brincar comigo, dizendo que ficava cansada desse povo achar que pedir a caixa de lápis de cor dela emprestada resolveria a mania de quem só usa o lápis cinza pra colorir a vida.
                  
Descobri, nesses dias pós chuva, que Meu Sítio é minha caixa de lápis de cor.  Quando eu abro a janela do meu quarto, dou de cara com essa dália linda aí de cima.  E fico de cara...
A porta da cozinha é outra descoberta curiosa.  Até então eu achava que o verde só mudava em degradé pro amarelo diante do pé de mexerica.  Descobri que é possível também uma evolução do verde pro vermelho intenso olhando um pé de acerola.  Enquanto amadurecem, as acerolinhas vão passando de um verde vivo até chegarem no tal vermelho que eu falei.  Fica que nem Paulinho Saturnino esnobou, dia destes, de uma altura que dá pra pegar até da cadeira de rodas. 
Tomás pega com o pé no chão.  Quer dizer, a altura ideal pra escapar de ser destroçada pelas galinhas.
A flor de cera tem todos os pastéis da caixa de lápis de cor.  Ela é meio rosada, pálida, suave como uma princesinha encastelada.  Emocionante.  Parecem feitas com as massinhas de modelar do Marcelo.  Deve ser por isto que os canários chapinha estão sempre fazendo um ninho perto destas flores.
Tem até flor que eu não faço idéia como chama mas que fica linda, parecendo um desenho.  Ela é quase A caixa inteira.  Tem verde, amarelo, vermelho e as variações todas entre estas cores.  Nasce de alguma coisa, parecendo uma bananeira e enquanto vive, é intensamente soberana, ela.

Até cores menos freqüentes, como o bonina, da trepadeira[1] da sauna, como o violeta, dos maracujás, estão presentes por todo canto.  Acho que é mesmo por causa da cor e da forma da flor que o maracujá, na França, é chamado de fruit de la passion.
Eu sei que, mesmo sem ter fotografado os bouganvilles, não tem sobrado muito lugar pro cinza na minha vida.
              
Ainda bem...
 
 
 
ps: esta dália é da Inezinha faz tempo...




[1]  Eu sei que o nome da planta é esse mesmo.  Mas, sei lá, me causa até um constrangimento, falando dela...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

NefroGastronomia - 199

                        
Desde que o Ives, nosso personal chef, nos acostumou mal preparando suas surpresas gastronômicas pra nossas NefroWalks e desde que ele, de puro dengo, melhora ainda mais o cardápio do Demi Baguete só pra adaptar os pratos às restrições do paciente renal crônico eu não tive surpresa tão agradável.
          
A comida da hemodiálise do Hospital Nossa Senhora das Graças, em Sete Lagoas, é maravilhosa.  Primeiro, porque eles são rigorosíssimos com a questão do zero sal.  Chegaram ao apuro de se articular com uma padaria de lá pra fornecer o primeiro pão de sal[1] sem sal e sem aditivos químicos.  Claro que não fica crocante que nem o pão que eu e você estamos acostumados a comer.  Mas a idéia de garantir uma opção 100% adaptada à nós dá uma bruta confiança da gente se entregar nas mãos deles.


            
E não é dizer que eu dei sorte um dia.  Nada disto...  A comida é boa sempre.
O povo lá conseguiu que eu, que fiz pirraça a vida toda pra não comer inhame, começasse a achar a maior graça.  Acho que eles contam sempre com duas estratégias matadoras, capazes de acabar com qualquer resistência desse povo chato que é paciente renal.

Uma, que pra encarar o arroz e o feijão com zero sal, a verdura vem sempre acompanhada de um tempero maravilhoso.  É a gente pegar o caldinho do inhame ou da mandioca (teve algo parecido com vaca atolada um dia) e, como num passe de mágica, a coisa adquire um sabor inesperado.

           
A segunda, imbatível, é o sorriso e a atenção da Andréa, que atende a gente na cantina.  A delicadeza e o carinho dela são inesquecíveis.
           
Fala se não é pra gente apaixonar com o cardápio? 
Fala...


ps:  Andréa só aceitou ser fotografada quando eu ameacei: 
-  Já tirei uma foto feia sua.  Ou você deixa eu tirar outra ou eu coloco no blog esta que eu tenho.
Ela abraçou uma paciente e riu pra mim...


[1] Claro que eu podia ter escrito pão francês, eu sei.  Mas fala se não fica mais legal o pão de sal sem sal?

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Avidaéminha.com.br - 198


Dia destes, nós no Meu Sítio, Ciça resolve levar a máquina de cortar cabelo pra dar um trato no Cris, namorado dela.
O negócio estava indo às mil maravilhas.  A chuva caia inclemente e a gente andava louco pra encontrar o que fazer.
Meio como quem não quer nada, Ciça lança o desafio: 
-  Tomás, deixa eu cortar o seu cabelo?
                    
Não sei o que deu no bicho mas o olho do menino brilhou de felicidade. 
Vamos?  Respondeu ele de pronto.
                    
Embarcando na viagem, Ciça inventou de fazer um corte meio Neymar.  O estrago não seria grande e a idéia era, chegando em Belo Horizonte, a gente ir na Cris, uma cabelereira ninja que, há algum tempo, consegue cortar o cabelo do Tomás enquanto ele joga videogame[1].
                                               
Mas daí, ele acabou gostando do resultado e já faz umas três semanas que o corte continua lá, impávido.  Um colosso.
                                 
Eu sei que outro dia, a gente pegando Tomás no Clic, ele todo feliz, contando suas histórias do reencontro com os colegas e a Ciça pergunta, acho que esperando um elogio:
-  Tomás, e o que o pessoal achou do seu cabelo?
Não sei de onde ele puxou isto mas respondeu rindo pra tia, todo rempli de soi-même[2]:
-  Meu cabelo é minha vida, Tia Ciça!
            
Obrigado, Clic, por ajudar Tomás a ser feliz e a entender que as decisões que ele toma porque gosta ou quer não dependem do apoio ou aprovação dos outros.





[1] E olha que a menina é ninja mesmo.  Tomás fica o tempo todo se mexendo, virando cabeça pra cá e prá lá, e a Cris só na tesourinha.  Recomendo, se você não se constranger de ficar assentado em um carrinho de Fórmula 1.  Fica na Francisco Deslandes.

[2] Qual é, gente?  Vai começar a me achar nojento agora?  Tô treinando, torcendo pra dar certo o passeio em Paris em agosto.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Domada - 197

Andei um tempo sumido, curtindo a chuva no Meu Sítio.  Maravilhado como a natureza agradece, quando a chuva cai.
                     
Só que agora, pra mim, este tempo todo fora de casa significa articular um Plano B pra hemodiálise.  Eu já tinha claro que podia contar com o povo do Hospital Nossa Senhora das Graças.  Mas não tinha lembrado que, da última vez, eles sofreram horrores nas mãos de Isadora, minha veia bailarina que só aceitava Pollyana, antes um pouco de ela amatronar-se.
                     
A bem da verdade, eu só lembrei da Isadora quando David, o enfermeiro chefe do meu turno, assumiu a punção.  Deixa comigo, disse ele cuidadoso, temendo repetir minhas dores de cabeça.

Mas a partir do segundo dia, virei pra Rita, meu personal guardian angel de Sete Lagoas, e falei baixinho:
-  Chama na xinxa que ela está querendo é se exibir.  Ela só está um pouco mais profunda.
E aí foi tudo maravilha.  Rita colocou Isadora no seu devido lugar.  
Engraçado que foi aí que eu me dei conta do upgrade que esta viagem significou, eu saindo da minha zona de conforto.  Foi a primeira vez em que eu vivi, mesmo, eu no comando, orientando o processo da punção. 
Um passo importante para viagem que a gente está pretendendo fazer a Paris, onde o processo de autodiálise é bem difundido.
                  
Bora comigo?