quinta-feira, 30 de junho de 2011

Plano B - 168


Tomei um susto danado neste feriado.  Susto mesmo, de chorar escondido pra mamãe não ver e ficar preocupada.

Tava tudo arrumadinho, sem chance de dar furo.  Saímos na sexta, depois da diálise e, por via das dúvidas, marquei minha sessão de segunda pra de noite.  Quer dizer, eu voltava na segunda, de avião, e chegava mais do que a tempo de ir pro Núcleo.  Ciça já tinha colocado minha sacola com o cobertor no carro e me deixaria lá, assim que eu chegasse. 

O avião foi por causa do tráfego do feriado, que estava um caos.  Com o avião eu ficava livre da ponte caída da 381, certo?
Certo, o cacete  Foi aquela cascata de confusão acontecendo...

A primeira foi o vôo das 08:00 atrasar seis (eu disse seis) horas.  Aí, surpresa, a Trip, do nada, cancelou meu vôo das 14:20[1].  O pior é que eu tinha ligado antes, pra saber se estava no horário e o cara do balcão da Trip confirmou que estava tudo ok.  Aí começa a enrolação de aeroporto.  Vai atrasar uma hora, vai atrasar duas, vai atrasar só mais um pouquinho.  Saímos de Valadares 18:30

Eu, em pânico, sem saber quão perto do limite eu estava. 
Se valia a pena ir pra BH ou tentar articular minha diálise de última hora, em Governador mesmo. 
Meu celular comeu solto, falando com a Mariana, médica do Núcleo, que foi me orientando.  Meus sintomas pareciam tranqüilos. 

Mas como eu não sou bobo, fui até a administração do aeroporto e pedi que aferissem minha pressão.  A coisa resolveu-se em um piscar de olhos:
O cara do aeroporto falou que era com a Trip.  A Trip falou que era com o aeroporto. 
Nenhum dos dois tinha nenhum recurso de primeiros socorros.

Cheguei em BH 20:15 e o povo do Núcleo me encaixou na primeira sessão de terça.

Com tudo sob controle, perguntei pro ZéAugusto, meu personal nephrologist, como saber se eu estava perto de ter um troço. 
Atenção, pacientes renais crônicos: Valente também é serviço!
1.   Se o potássio estiver alto:  dá uma dormência nos membros.  Não é cãimbra não.  É dormência mesmo.
2.   Ganho de peso:  cansaço inabitual.  Eu começaria a arfar a qualquer distâncizinha percorrida.

Tá bom.  Nunca mais deixo isto acontecer.
Aprendi que minha flexibilidade nunca podia depender do horário de chegar em Belo Horizonte.  Da próxima vez, faço minha diálise lá, no primeiro horário da manhã, e pego QUALQUER meio de transporte de tardinha.

Até uma canoa destas do Príncipe Valente.


[1] Sem avisar nada, nem por telefone



sexta-feira, 24 de junho de 2011

Estigma - 167



Saí com Fernando Lara e Cadu Livino, dia destes.  A gente trabalhou uma época juntos, há um tempo atrás. 
E foi só borrachinha. 
Eles, me sacaneando sem parar, pela pose professoral.  Eu, retribuindo, em cima do talento deles supitando, mas ainda incipiente, à época.  Foi um rir sem conta, a noite toda.

Fernando, cruel, me crucificando pela intolerância, quando falava da minha impaciência com quem confundia canceroso com lazarento e, principalmente, com quem chegava pra me confortar despejando lugar comum.  Atirava:
-  Você quer que fale como, com você?  Fique calado?
Nada, disse eu.  Se você for meu amigo, eu já espero tudo que você possa dizer.  Não precisa falar nada.
E eu contei pra ele como Marcelo Xavier, meu amigo mais antigo, reagiu, quando contei do câncer. 
Desligou o telefone na minha cara.  Tu, tu, tu, tu, ... 
Lisa, minha filha, até hoje não entende como eu sou apaixonado com ele.

E o engraçado é que, um ou dois dias depois da nossa conversa, Márcia Cabrita esteve no Jô falando exatamente sobre esta forma esquerda de manifestar solidariedade.

Tudo bem.  Eu sou um velho resmungão. 

Mas olha se o que ela diz não é um primor pra você aprender a conversar comigo conosco, olha!!!


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Edição Extraordinária 75 - Remissão




De tudo o que eu já escrevi aqui, o post que eu gosto mais foi o do Xande, meu personal urologist, falando a frase que me fez bambear as pernas de felicidade:  I’m impressed.

Na tora, isto quer dizer que, desde 19/08/2010 (por aí), a data do post, eu abandonei a condição de portador de câncer para a condição de “em remissão”.  Segundo o Aurélio, remissão quer dizer:1.Ação ou efeito de remitir(-se); remitência.
2.Compensação, paga; satisfação:

3.Misericórdia, clemência, indulgência; perdão:
4.Perdão total ou parcial dos pecados, concedido pela Igreja:
5.Perdão de ônus ou dívida.
6.Falta ou diminuição de rigor, de força, de intensidade:

7.Lenitivo, alívio, consolo:
8.Ação ou efeito de remeter, de mandar a um ponto dado:
No meu caso, o significado que mais me agrada é “falta de intensidade”.  Mas as outras todas ficam hilárias, dentro do meu contexto.

Maria Luiza, minha personal radiologist, se acertou com Leco, meu personal oncologist, pra que eu não me expusesse à radiação da tomografia.  E definiram que eu faria meus controles com ultrassom abdominal, a partir de então.

Semana passada, lá fui eu, com um dedinho de grilo, fazer o exame com o Adriano, o médico que tinha identificado os tumores, em agosto de 2009.  Ele fuçou tudo.  Sete horas da manhã, um frio cão, e ele espalhando, sem miséria, o gel[1] pela minha barriga.

Mais uma vez, minha técnica de tradução de diagnóstico funcionou.  Adriano abriu um sorriso e falou:
-  É!  Eu acho que você está curado, rapaz!

Significa que eu me mantendo assim por mais um tempo[2], passo à condição de candidato ao transplante.  Mas como esta doença é tinhosa, não convém baixar a guarda.  Aí a gente trata ela de frente, sem deixar que ela avance.

Já falei isto uma vez aqui, não lembro onde: com respeito mas sem desdém.  E você, por favor, pode abrir um champagne em minha homenagem.
-  Saúde!  Obrigado, meu São José.  Obrigado, minha Nossa Senhora.
  


ps:  Continuo não fazendo a menor idéia do que quer dizer a série de imagens do ultrassom.  Coloco mais fé na cara boa do Adriano!





[1]  Acho que o gel deve vir de GELADO.  Nú!  Você não imagina como, no inverno, o bicho pega...

[2]  Tenho certeza não, mas é algo como uns quatro ou cinco anos sem manifestação do tumor.



Alberta Hunter é meu benchmark em doideira.  De doideira e de fé na vida.  Era já cantora respeitada e largou tudo pra cuidar do pai (era enfermeira).  Aí retomou a carreira perto dos 80 anos, depois que o pai morreu.

domingo, 19 de junho de 2011

Edição Extraordinária 74 - Bença

                            Papai, mamãe e a Pinha

Bacana, deu uma saudade, esta história de 90 anos do papai, que você não faz idéia...
Papai morreu numa data imprecisa, entre julho de 77 e junho de 79, quando eu estava na França.

Quer dizer, morreu mesmo em dezembro de 70.  Mas eu nem me dei conta.  Continuava conversando com ele pra toda decisão importante que eu precisava tomar na vida.  Conversava com ele sobre que curso eu devia fazer, conversava sobre a mulher que eu havia escolhido, sobre o primeiro apartamento que Paulão e eu empreendemos, sobre ir pra França ...  Tudo.

Papai me ouvia calado, sorrindo, ouvindo meus argumentos e me fazia repetir tudo, à exaustão, até que as coisas clareavam na minha cabeça.  Neste momento, ele acenava e me fazia entender que era hora de ir embora.

Teve um dia, na França, quando eu passava pelo quarto do Diogo vindo do banheiro pro meu quarto, que me ocorreu que Papai não havia visto eu formar, não havia visto eu casar, não havia visto eu ser convidado pra trabalhar na Vale, não havia visto eu ganhar a bolsa pra estudar na França, não havia visto o primeiro neto dele nascer ...

Bacana, você não faz idéia.  Mas eu caí num choro convulsivo que deixou Gêisa apavorada.  Deu o quê, neste menino?, deve ter pensado ela...
Foi ali, naquele momento, que Papai morreu.  Ou, é possível também, que ele me fez entender que eu estava pronto pra caminhar sozinho.  Deve ter dado um adeuzinho maroto e foi embora.

Mas, como diria Tomás, pronto nada.

Deve ser por isto que eu me emociono tanto quando encontro com os amigos dele, quando escuto o trombone de vara que ele tocava na banda de Guanhães ou quando assovio as músicas que aprendi a assoviar, pensando nele.

Bacana, que saudade ...


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Edição Extraordinária 73 - Pintinho amarelinho



Diogo me acusa de ter complexo de pau pequeno toda vez que eu fico irritado com o atendimento over que me dedicam lá em casa.  É toda hora alguém me perguntando onde eu estou, com quem eu volto, se eu levei blusa de frio.  Se eu peço carona pra alguém, uma voz imperativa vem lá de dentro:
-  Leva seu pai lá!
Eu fico tão sem paciência que prefiro ir a pé.
Sem a menor gota de solidariedade, Diogo murmura, balançando a cabeça, que é o complexo...

Domingo lá no Meu Sítio estava um frio de doer.  Mas estas manhãs outonais do Cerrado, com um céu de um azul lindo, e o sol brilhando, soberano.

Como eu ando procurando desculpa pra celebrar o final da úlcera da minha canela, não pensei duas vezes.  Caí na piscina.  Você não imagina como a água estava  fria.  De trincar os ossos.  Como o que não tem remédio, remediado está, fiquei galhardamente caminhando na piscina, com a esteira na mão, pra tirar uma ou outra folha que sobrevivera da limpeza.

Minha valentia durou uma hora de exercício.  Caminhava pra lá e pra cá, aproveitando pra me aquecer com os movimentos.  Salvadora, chegou a hora do almoço e lá fui eu, sair da piscina.

Quando cheguei no quarto, tadinho, ele estava lá, numa timidez de dar dó...  Amarelinho, não.  Cor de rosinha.
Mas pequenininho de dar razão à implicância do Diogo.



quarta-feira, 15 de junho de 2011

Edição Extraordinária 72 - Mais um(a)



Nando é o meu irmão bitelo que me fez chorar quando eu sai do CTI.  É especialista em tirar minha paz, fazendo as vontades da mamãe e, de quebra, fazendo ela esquecer que eu existo.
O Dão, filho dele, é o maior picadoce que eu conheço.  Foi por causa dele que eu tive coragem de sair de BH pela primeira vez, quando casou com a Fernandinha.

Dando prosseguimento à estratégia de sedução que ele herdou do pai, Dão nos deu, há um tempo atrás, uns bulbos de sei lá o que pra gente plantar no Meu Sítio.  Com a minha tradicional grosseiria, tratei a questão como se menor fosse.l

Semana passada acontecem duas coisas meio que simultâneas.  Cheguei no Meu Sítio, tinha nascido esta Amarílis[1] linda.  E ela nasceu no mesmo dia que eu soube que o Dão e a Fernandinha estão esperando mais um(a) bisneto(a) pra Dona Ester.

O time dos primos do Tomás está só que cresce...

 





[1]   Demorei a acreditar que o nome da flor era Amarílis.  No mínimo, se perguntassem pro Mussum, tinha que ser Vermílis...



domingo, 12 de junho de 2011

Edição Especial 71 - Fiat Lux, Cemig

                                         Desenho chupado no Google de Roy Lichtenstein


Quinta feira foi um caos em Belo Horizonte.  Árvore caindo pra todo lado, vento uivando, coisa horrorosa.  Na casa da mamãe, duas janelas de vidro quebradas.
Em meio a este caos, é esperável até que a luz caia em alguns lugares.

Quer dizer, esperável pra você e pra Cemig.  Pro Paulinho Saturnino não.

Paulinho  você conhece de uma história que eu já contei nest’A Saga.  Acontece que Paulinho não deixou que sua deficiência física se confundisse com inutilidade e o impedisse de empreender uma carreira profissional brilhante, que o levou, inclusive, a dirigir a FAFICH da UFMG, onde uma horda de comunicadores usufruiu de sua verve afiada e seu humor fino, que você conheceu aqui.

Pois é.  Hoje, quando acontecem as crises mais brabas, Paulinho depende de um respirador, com o risco de uma apnéia meio atrevida, fora de hora, levar ele para sempre.
Você pode imaginar[1] o desespero que ele fica quando acaba a luz.

Paulinho tem em casa dois nobreaks turboblaster, mega, que garantem o respirador funcionando por mais umas 4 salvadoras horas.  O equipamento foi instalado pela WhiteMartins, a fornecedora do oxigênio, e é o considerado adequado, dentro dos padrões normais.
Só que a gente nunca sabe quão dentro dos padrões ESTA queda de energia se enquadra.

É aí que mora o perigo.  É impossível ligar pra CEMIG nas horas de crise.  A única coisa que é possível ouvir pelo telefone é algo como “nossos atendentes estão todos ocupados”.  E a única coisa que Paulinho pode fazer é cochilar sentado, vigilante, pra ver se a falta de luz está chegando ao limite dos nobreaks, pra ele correr, ainda a tempo, pra algum hospital que possa atendê-lo.

Os amigos do Paulinho começamos uma briga com a CEMIG pelo facebook, pedindo que fosse colocado algum sistema de atendimento especial pra quem tem necessidade especial.  A empresa coloca alguns procedimentos burocráticos até razoáveis.  Vamos ver, na próxima crise, se vai mudar alguma coisa.  Por agora, Paulinho está aproveitando pra recuperar o sono e a calma perdidos.

E você aí, bacana, pensando que Valente era eu ...


[1]  Acho que não.  A gente não consegue imaginar este desespero ...




quinta-feira, 9 de junho de 2011

Luz no túnel - 166



Só tem uma coisa que eu gosto menos do que ficar doente.  É ligar pra secretária do médico, marcando a consulta, e ela te atender fazendo a primeira e fatal pergunta:
-  É particular ou convênio?

A gente já está fragilizado com a doença e a pergunta acaba gerando (em mim, pelo menos) a sensação, como eu sou sempre convênio, que ela vai me marcar pra daqui uns oito meses.

Por isto eu fiquei particularmente sensibilizado quando a Unimed-BH me convidou para falar sobre uma inventação de moda deles.  A gente marca tudo pela internet, com o Agendamento On-line de consultas da Central do Cliente.

Tudo bem.  Eu não sou nenhum Bill Gates na frente deste teclado.  Mas também não é nada complicado.  Primeiro me cadastrei.  Cliquei no link do site e o mundo se descortina ante minha pequenez.  Escolhi médico, no endereço de consultório que eu preferia, horário, tudo do jeito que eu quis.  E o sistema, que não é bobo nem nada, na véspera da consulta, me mandou uma mensagenzinha pra eu não esquecer.

Unimed-BH, minha fia, você não sabe o adianto que foi pra minha vida de doente esta história de Agendamento on-line de consultas.  Do jeito que eu sou sensível[1], acabou com a má impressão que a uma secretária mal treinada provocava em mim.

Experimenta lá no site e veja se o negócio não é bacana mesmo:  www.unimedbh.com.br.  Melhor que ter que guardar o telefone dos seus médicos todos na cabeça.

Serviço:
O Agendamento On-line é um sistema para marcações em consultórios, os agendamentos de consultas nos Núcleos de Atenção à Saúde e Centros de Promoção da Saúde continuam sendo feitos pelo Unidisk, 08000 30 30 03. Sugestões, envie uma mensagem para suportecliente@unimedbh.com.br

ps:  a grana gerada por este post vai toda doada para o Hospital da Baleia


[1] A acusação mais recorrente do pessoal aqui de casa

terça-feira, 7 de junho de 2011

Edição Extraordinária 71 - Puro Dengo



Outro dia eu andei meio azedo com uns amigos meus que confundiam canceroso com lazarento. 
Bobagem minha.
Na maior parte das vezes, o que a gente recebe é puro dengo.  Meio como que uma solidariedade onde vocês falam que a gente já sofreu muito e nem precisa sofrer tanto assim. 
Bobagem sua.

Tudo bem, não é nada engraçado. 
Mas olha direito que sempre tem um Richarlyson ou um Seu Benício na sua vida e eu e você devemos mais é agradecer a Deus por esta vida boa que nós temos levado.

Outro dia, foi na decisão da Copa da UEFA.  O técnico do Barcelona, Guardiola, cheio de amor pra dar, faltando um nada pro final, coloca o Puyol em campo, como capitão, mesmo regaçado, só pro menino sentir o gosto de levantar a taça.  Aí, puro dengo, o Puyol passa a bola pro Abidal, que tinha se recuperado da retirada de um tumor no fígado e é quem, no final das contas, levanta a taça. 
Mó gracinha.  Os três.

Semana passada, um grupo de Governador Valadares, puro dengo, resolveu apoiar um colega que estava fazendo quimioterapia, para tratar de um câncer que apareceu na sua cabeça. 
Mó gracinha.  Eles todos.

É assim, de dengo em dengo, que a gente vai conquistando a recuperação.
O desafio é você fazer o dengo de maneira inesperada.  Quando você se depara com um velho mal humorado e resmungão que nem eu, tem uma grande chance de ter seu dengo rejeitado.
Liga não.
Como eu já disse lá atrás, bobagem minha!



sexta-feira, 3 de junho de 2011

Edição Extraordinária 70 - Dique, o gato

De vez em quando Mamãe me confessa o maior medo que ela tem de morrer: é chegar lá no céu e encontrar Papai rodeado de anjinhas e, ao ver ela, velhinha, velhinha, dar um perdido e deixar ela sozinha.

É que Papai era um gato mesmo.  Um autêntico bofe.  Campeão de pentatlo militar nas Agulhas Negras, forte como um touro.  Ia fazer 90 anos amanhã.

Não chegou a completar 50 anos.  Mamãe passou mais tempo viúva do que casada com ele.  E me encanta como ela, até hoje, curte uma paixão pelo Dique, enchendo os olhos dágua, quando fala dele.  Outro dia contou pra Ciça um sonho dela com Papai.  Mamãe tinha deixado cair uma casquinha de pão no seu colo e ele, com a maior cara de safado, falou, com olhar sedutor:
-  Posso tirar?
Foi o que bastou.  Ciça saiu gritando pela casa:
-  Olha a Vovó tendo sonhos eróticos!!!
Mamãe ficou vermelhinha, igual uma adolescente.

Papai deixou pra gente umas lições muito importantes no tempo que eu vivi com ele e pelas histórias que eu recuperava, de amigos dele.  Todas elas repletas de demonstrações de amizade, alegria, solidariedade e lhaneza.
Até hoje a gente encontra pessoas que me falam:
-  Seu pai era meu melhor amigo.

Mamãe conta histórias deles com a maior dificuldade pra sustentar os sete filhos e, passeando à noite, deixavam de comer um bombom porque o dinheiro poderia fazer falta pra gente.
A gente tinha uma Kombi, o único carro, na época, onde caberia todo mundo.  Resultado: os amigos nossos se apinhavam no carro conosco e papai achando a maior graça.

Dr. Celso, grão embaixador de Virginópolis e Guanhães no Rio de Janeiro me falou uma vez que não entendia como papai conseguia  bancar o lanche, todo domingo, de TODOS os parentes de Valadares estudando em Belo Horizonte.  Acho, Celsinho, que o grão embaixador em Belo Horizonte, na época, era ele.

Um lord, Papai todo domingo de manhã ia ao Abrigo de Bondes comprar um molho de margaridas e gipsies pra Mamãe. 
Toda vez que Vovó Maricas vinha a Belo Horizonte, Papai virava meio mundo pra comprar caqui pra ela.  Uma vez, não conseguiu.
Vendo a cara desconsolada dele, vovó cochicou no seu ouvido, marota:
-  Liga não, Henrique.  Eu sempre tive vergonha de te falar que eu não gosto de caqui.

Foi dele que a gente herdou nossa alegria e lisura nas nossas relações.  Tenho pra mim que Papai não podia ter pensado em herança melhor.  Por isto que, neste sábado, nós vamos na Missa dos 90 anos às 18:00 e pra quebradeira, na NefroGafieira de noite.
Se eu fosse você, vinha conosco.



Era esta a música que Papai assoviava sempre e eu mencionei aqui

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Edição Extraordinária 69 - Sábado tem NefroGafieira no 104


     
Papai era um mentiroso memorável.  Acho que foi com ele que eu aprendi.  Durante anos ele enganou o maestro da banda do 12º RI, dizendo que tocava trombone de vara na banda de Guanhães.  Papai ia nos ensaios da banda e tocava um trombone imaginário como se um virtuose fosse.  O maestro era tão impressionado com o suposto talento do papai que uma vez, 6 horas da manhã, foi fazer uma alvorada no dia do aniversário dele[1]. 
Toda vez que eu vou em gafieira, me emociono, lembrando de papai assoviando seus sambas.  Acho que foi assim que aprendi a gostar do negócio.

Outro dia eu estive no 104 pra conhecer a Gafiera com a Patrícia e o Dé. 
O lugar é maravilhoso.
Quer dizer, maravilhoso pra vocês.  Pra mim, quando olhei a escadaria, me deu vontade de voltar pra casa.  Mas o som da Orquestra Senta a Pua ia me animando a cada degrau que eu subia.  Quando cheguei no alto, olhei lá de cima como um rei, cuja primeira batalha tinha sido vencida.  E aí me joguei nos braços das dançarinas...

A infra é perfeita.  Tem um estacionamento na Av. Santos Dumont, 218, e eles contam com um serviço de acompanhante até o veículo.  A entrada é R$ 15,00 e te dá direito a uma dança com os professores e professoras que ficam à disposição dos presentes.  Mas já aviso, são disputados a tapa. 
Dá fila.

Ficar sem dançar você não fica de jeito nenhum.  Nós temos que chegar lá pelas 21:00 pra garantir mesa pros pobrezinhos dos pacientes renais.  De qualquer forma, tem muito sofá espalhado.  De pé você só fica se estiver dançando...

Fora isto, eu garanto que o moço do trombone de vara toca esplendorosamente.  Parece papai, na banda de Guanhães...




[1] Que, aliás, seria neste sábado, dia 04 de junho.