Tem já um tempinho que Tomás estuda no Clic. Não é exatamente uma escolinha. Elas se autointitulam um Centro Lúdico. E uma das coisas que eu mais gosto do Clic é que eles estimulam a criança a argumentar. A colocar pra fora, em vez de ficar sofrendo, insatisfeito
Desde a mais tenra, a cada vez que alguém contradizia o Tomás, ou ele ficava amuado ou ia pra um canto, curtir sua profunda dor por não ter toda a humanidade ao seu lado.
Lá no Clic, a Bárbara, professora dele, estimula cada uma das crianças a expressar seu descontentamento. Não precisa chorar, não precisa brigar, só falar: Não gostei!
Com freqüência eu me pego, me deliciando com esta facilidade pra expor seu sentimento, coisa com a qual eu não fui acostumado, ele aprendendo a estabelecer relações mais claras com quem ele convive.
Tem vez que é um desacerto. A gente telefona, cheio de saudade, e ele, na lata, fala com Carol: Não quero falar!
E acabou o assunto. Não há nada que convença aquele anjinho a pegar no telefone.
Agora ele acabou de entender como se encerra uma discussão. A gente convida: Vamos pra piscina, Tomás?
E ele: Piscina, nada!
Tomás, vamos almoçar?
Almoçar, nada!
Vem dormir aqui comigo, Tomás.
Dormir, nada.
Nada, pra ele, significa ponto final.
Ciça acha isto a coisa mais engraçada do mundo. A bem da verdade, eu também. A um ponto tal que incorporamos a reação como uma gíria interna aqui de casa.
- Ciça, me deixa ali na Savassi?
- Savassi nada!
Eu e Ciça ficamos nos esgrimindo pra ver quem surpreende o outro com o uso mais adequado da expressão criada pelo Tomás.
Surpreende, nada!